A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 364
Capítulo 364: Encontro
Hades
Alcançamos a clareira fora dos sub-baias, trilhas de cheiro emaranhadas no caos de óleo queimado, sangue e cinzas—mas então…
Nada.
A trilha parou.
Morta.
Ajoelhei-me, arrastando as garras pelo concreto onde o sangue terminava. Mais alguns respingos… uma marca de raspão… então silêncio. Vazio.
Como se tivessem desaparecido no ar.
“Escaneie o perímetro novamente,” rosnei, minha voz baixa e letal. “Drones. Termal. Deslocamento de energia. Quero todo o setor mapeado.”
“Sim, Alfa!”, a equipe Gamma se apressou em ação.
Levantei-me lentamente, o ar preso na minha garganta enquanto olhava para a linha de árvores além do muro. Eles tinham ido. Mas não longe. Eles não podiam estar.
A menos que…
A menos que eles tivessem planejado isso há muito tempo.
E esse fosse um caminho que nunca soubemos que existia.
Minha mão bateu na parede mais próxima com um estalo de pedra estilhaçada.
Eles tinham Kael.
E eu não tinha nada.
Virei-me de volta para os Gammas. “Vamos ampliar a rede. Quero cada túnel de topeira, cada escoadouro, cada antigo duto de comércio selado e verificado. Operativos de Silverpine não simplesmente desaparecem.”
“Senhor—”
“AGORA!”, rugi.
“Imediatamente!”
Mas então—
“Calma, luci,”
Aquela voz.
Virei-me lentamente.
Cain.
Ele estava encostado casualmente na parede logo além do posto de guarda, braços cruzados, expressão indecifrável. Seu manto flutuava levemente na brisa, mas ele nem sequer havia suado.
“O que está fazendo aqui?”, rosnei.
“Estava esperando por você,” Cain respondeu, saindo da parede. “Demorou bastante. Eu esperava que fosse mais rápido.”
“Não tenho tempo para seus jogos.”
“Bom. Porque este não é um.”
Ele deu um passo à frente, os olhos agora duros. “Você acha que eles simplesmente desfilaram por um corredor e desapareceram? Não. Isso foi orquestrado. E você vai precisar de mais do que força bruta e uma equipe de comando meio apavorada se quiser encontrar Felícia. Ou Kael. Se eles ainda estiverem dentro das fronteiras.”
Cerrei o maxilar.
Cain inclinou-se apenas ligeiramente, abaixando a voz. “Tenho homens posicionados no subsolo. Lugares que nem seus olhos Gamma podem ver. Contrabandistas. Mensageiros. Corredores. Eles conhecem as artérias de Obsidian melhor do que ninguém—porque eles as construíram. Usaram-nas.”
“Você está admitindo que vem comandando operações ilegais sob a minha vigilância?”
“Estou dizendo,” Cain disse com um sorriso de lado, “que você deveria agradecer aos deuses por eu ter feito isso. Como você acha que conseguimos obter estoques médicos, supressores de Fluxo e informações sem que o seu glorioso Conselho se mijasse toda vez que uma caixa passava pelo portão?”
Eu o encarei, cada instinto me dizendo para empurrá-lo na terra e correr sozinho.
Mas Kael estava lá fora.
E Cain…
Cain sempre foi bom em encontrar o apodrecido nas paredes.
Eu exalei fortemente. “O que você quer?”
“Nada. Eu também quero Kael de volta.”
Ele fez uma pausa. “Ele é meu amigo.” Depois outra pausa antes do desgraçado começar a rir.
Meu rosto escureceu, mandíbula travando.
“Demais?” Ele perguntou, sem um pingo de arrependimento. Não que sua contrição significasse merda para mim. “Pare de franzir a testa, você parece constipado.” Parte de seu humor caiu. “É Kael. O irmão de outra mãe da Eve. E nós temos um acordo. Eu ainda sou aliado dela. O problema dela é meu irmão.”
A maneira como ele disse o nome dela fez meu estômago revirar.
Cain se endireitou. “Deixe-me ajudar. Meus homens já estão se movendo. Vamos varrer as veias sob a capital. Se eles ainda estiverem em Obsidian, nós os encontraremos.”
Eu não assenti.
Não o agradeci.
Apenas olhei para ele.
“Então vá,” disse eu. “Mas se isso for um truque—”
Cain zombou. “Você vai me esfaquear? Queimar? Por favor, irmão. Guarde isso. Se eu quisesse seu trono, teria tomado quando você ainda estava dormindo ao lado dela.”
Cain sorriu de lado enquanto começava a se virar, mas então parou, me lançando um olhar de soslaio.
“Somos irmãos, afinal,” disse ele, com a voz mais leve. “Mesmo que você continue fingindo que não somos.”
Eu não respondi.
Não hesitei.
Não pisquei.
Seu olhar demorou um instante. O sorriso voltou aos seus lábios, desta vez com algo irônico por trás.
“Sabe,” acrescentou ele, caminhando alguns passos à frente, “se você parar de agir feito um idiota por cinco minutos inteiros e me ajudar a coordenar esta varredura, eu até pego um pouco daquele pudim de figo com mel da cozinha para você.”
Minha mandíbula se apertou.
Cain continuou andando, claramente se divertindo consigo mesmo. “Como nos velhos tempos. Antes de você criar presas para o café da manhã e esquecer como rir.”
“Eu não esqueci,” murmurei entre dentes, já sinalizando ao Capitão Gama mais próximo para redirecionar as forças para as saídas das sub-veias da cidade.
A orelha de Cain se moveu. Ele ouviu isso.
Ele sorriu ainda mais, mãos nos bolsos do casaco enquanto caía no ritmo ao meu lado.
“Bom,” ele disse. “Significa que não vou ter que começar a te dar pudim na boca para lembrar que você ainda é humano por baixo de toda essa raiva Licantitana.”
Eu o lançei um olhar tão afiado que poderia cortar um continente.
Ele não se importou.
Não piscou.
Apenas caminhou ao meu lado como se não tivéssemos quase rasgado a garganta um do outro umas dúzias de vezes antes.
E deixei ele.
Porque Kael ainda estava lá fora.
E Cain, apesar de todos os seus pecados, sempre soube como encontrar fantasmas no escuro.
Mesmo que deixasse um rastro de inferno atrás de si ao fazer isso.
Entramos mais fundo nos túneis.
—
Procuramos até não haver mais nada para procurar.
Dutos que não viam a luz do dia há décadas. Salas de armazenamento seladas antes do meu reinado. Rotas apenas sussurradas pelos guardas antigos.
Ainda nada.
O rastro havia evaporado—como respiração no vidro. Como se Kael, Felícia, e quem mais os ajudou nunca tivessem existido.
Eu estava na borda da divisão central do sistema de túneis, a pedra sob minhas garras escorregadia de condensação, o ar espesso com frustração e fracasso. Meus Gammas ficavam atrás de mim—silenciosos, disciplinados, esperando por ordens que nunca vinham. Sua armadura estava arranhada, encharcada, suas sobrancelhas baixas de exaustão. Mesmo assim, esperavam.
Do outro lado, outra eco surgiu—um novo ritmo.
De Cain.
Ele emergiu como sempre—sem pressa, confiante, sombreado por seus homens que não tinham insígnias mas se moviam com propósito letal. Trapaceiros, contrabandistas, ex-operativos dos dias mais sombrios de Obsidian. Eles o flanqueavam em silêncio, e quando Cain parou, eles também—apenas além da ruptura onde nossas unidades não se encontravam completamente.
Dois Alfas.
Duas exércitos.
E nenhuma resposta.
Cain encostou um ombro na parede e jogou algo—talvez um cap de estimulante amassado—na poeira. Seus olhos encontraram os meus através da divisão.
“Eles se foram”, ele disse friamente. “Sem rastro. Sem calor. Sem ruído. Sem destroços. Nada nas veias orientais, nos túneis de osso, ou nos depósitos da linha de fluxo. Até chequei o eixo de rastejo sob o Setor Treze—aquele que não deveria existir.”
Meu silêncio foi resposta suficiente.
Ele deu um passo à frente. “Isso não foi um recuo.”
Eu inclinei a cabeça, olhos se estreitando. “Então o que foi?”
A mandíbula de Cain trabalhou por um segundo. Então ele olhou para mim—não como um rival. Não como o bastardo que quase fraturou nossa linhagem.
Mas como alguém que já tinha visto isso antes.
“É o que costumávamos chamar de Desculpa,” ele disse, voz quieta mas carregada. “Dos dias antigos. Quando uma operação subterrânea saía perfeita demais—quando tudo era limpo de forma tão impecável que não fazia sentido… era assim que o chamávamos.”
Eu franzi a testa. “Um código?”
Ele assentiu. “Uma Desculpa é quando alguém—de dentro—arruma o tabuleiro. Lacra as peças. E dobra toda a operação em uma sombra tão fácil que parece um ato de desaparecimento. Sem destroços. Sem padrão. Sem rastro. Apenas uma ausência tão perfeita que tem que ser intencional.”
Eu olhei para ele.
E algo no meu estômago revirou.
“É por isso que é chamado de Desculpa,” ele acrescentou, voz baixa. “Porque o traidor sempre se arrepende… mas tarde demais. É uma mensagem para aqueles que ficaram para trás: Tinha que fazer isso. Me perdoem.”
Eu me virei dele, minha respiração desacelerando.
Uma Desculpa.
Algo orquestrado de dentro.
Um traidor com as chaves do reino.
Não apenas qualquer traidor.
Eu engoli.
Meus Gammas estavam atrás de mim em formação—silenciosos, firmes, leais.
Os trapaceiros de Cain estavam atrás dele, mais soltos, mas não menos perigosos. Alguns se encostavam nas paredes. Outros ajustavam armas que eu não reconhecia. Mas todos me observavam.
Ambas forças estavam esperando—por um comando. Uma direção. Um propósito.
Eu olhei para baixo na pedra entre nós.
E então eu disse.
“Felícia.”
Cain não se moveu. Apenas assentiu uma vez, devagar e certo.
Eu respirei fundo, a realização se chocando em mim em pedaços.
Ela conhecia a Torre melhor do que a maioria. Tinha acesso. O sangue. A confiança. Ela percorreu esses corredores com a cabeça baixa e seus segredos lacrados, e nós—eu—deixamos.
“Ela teve ajuda,” eu murmurei.
“Mais que ajuda,” Cain disse. “Ela teve uma base.”
Eu olhei para ele, o pavor churning atrás do meu esterno. “Onde?”
Cain hesitou, então deu uma meia encolhida, como se também não pudesse acreditar.
“Ela é uma Montegue.”
Meu estômago afundou.
“Ela ainda tem sua propriedade.”
Eu me virei completamente agora. “O casarão?”
Cain assentiu. “É velho. Meio esquecido. Remoto o suficiente para ser discreto, fortificado o suficiente para ser perigoso. E grande o suficiente para esconder todo um conselho de guerra em sua adega. Não está listado nos registros de Obsidian porque Montegue era muito arrogante para registrar suas posses. Ele queria que sua casa fosse dele, não do Conselho. Aposto que Felícia manteve assim.”
Uma raiva lenta e ardente subiu em meu peito.
Quantas vezes caminhei por aquele caminho?
Quantas vezes fiquei na beira daquele casarão, pensando que era nada mais que uma relíquia?
Ela estava dez passos à frente o tempo todo.
Eu olhei por cima do ombro—primeiro para meus Gammas, depois para os homens de Cain.
Duas fileiras de guerreiros.
Lealdades opostas.
Mesmo propósito banhado em sangue.
“Então, vamos cavalgar,” eu disse.
Cain deu um sorriso torto. “Achei que nunca diria isso.”