A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 359
Capítulo 359: Do Começo
Eve
Houve uma longa pausa enquanto eu me preparava para o que parecia uma confissão.
“Eu o odiava, Majestade, meu marido,”
Eu observei suas expressões se fecharem, rostos contorcendo-se em choque. Talvez não por causa do meu antigo ódio pelo rei deles, mas porque eu tive a audácia de confessar isso diante de uma plateia assim.
“Então eu…” a memória por alguma razão me fez rir enquanto eu pausava minha fala. “Tentei envenená-lo.”
Apesar do silêncio que deveriam manter, já que as perguntas seriam permitidas ao final das minhas declarações, ofegos e murmúrios romperam pela imprensa, todos escrevendo antes mesmo de seu choque ter passado.
“O veneno, Argenico, era meu batom no dia em que trocamos nosso primeiro beijo.” Eu olhei para onde a mão de Hades ainda estava conectada com a minha. Ele estava tremendo, mas quando meus olhos saltaram para o rosto dele, vi uma covinha surgindo.
Alívio flutuou em meu peito enquanto meus olhos caíam para frente, de volta à imprensa que esperava, apreensão e choque estampados em seus rostos, e surpreendentemente alguns tinham leves sorrisos rasgando os lábios enquanto escreviam vigorosamente.
“Mas eu não me sinto mais assim,” acrescentei rapidamente, calor subindo pelo meu pescoço.
“Verdadeiros inimigos que viraram amantes, então,” um repórter lá atrás soltou.
Para meu choque, os outros responderam com risadas relutantes.
Eu podia sentir os olhos de Hades em mim enquanto ele me observava sem restrições diante de seu povo. Um rei lycan encarando um lobisomem deveria ter sido um escândalo e poderia despertar uma ira maior das pessoas que não aceitariam o conceito, mas Hades não parecia se importar nem um pouco.
“Você poderia chamar assim,” eu respondi àquela pergunta.
“O resultado da manobra que executei foi qualquer coisa menos agradável, mas vocês já sabiam disso. Vocês conhecem o seu rei.” Eu afirmei, mantendo meu rosto sério mais uma vez.
Alguns responderam assentindo e sorrindo enquanto continuavam a escrever furiosamente.
“Mas era esperado. Duas pessoas se unindo em um casamento que nenhuma delas queria, forjado sob coerção política, com séculos de derramamento de sangue entre elas… O que vocês todos achavam que iria acontecer?”
Desta vez, ninguém ousou interromper.
“Foi uma jogada de poder. Uma performance. Eles me vestiram, me exibiram, e esperavam que eu desempenhasse o papel da silenciosa Luna. Sorrir. Acenar. Abaixar a cabeça. Ser domada.”
Eu olhei para a imprensa, captando os olhos dos oficiais mais velhos perto da frente. Um deles — um ancião Lycan da Coalizão Ocidental — desviou o olhar primeiro.
“Mas eu não sou uma coisa domada. E nunca serei.”
Silêncio novamente. Pesado. Respeitoso.
“E nem ele,” eu acrescentei, olhando para Hades. “Esse era o problema. E talvez… o começo da solução.”
O olhar dele encontrou o meu, inescrutável mas firme.
“Eu não o entendia naquela época. Eu via um tirano em uma coroa, não o homem por baixo dela. E ele—” minha voz oscilou ligeiramente, “—ele via um monstro em um vestido bonito. Alguém que ele poderia usar, como todos os outros.”
Deixei as palavras pairarem, cruas e honestas. Deixei que doessem. “A sensação de desespero absoluto foi exacerbada quando descobri que meu pai tinha participação no massacre da família real, da falecida esposa de minha majestade e do filho ainda não nascido.” As lágrimas brotaram quando recordei o momento em que ele me revelou isso.
A sala tornou-se abafada, solene.
“A única saída da culpa era a morte para mim, então tomei esse caminho…”
A sala transformou-se em um cemitério de respirações. Até mesmo os rabiscos pararam.
Você podia ouvir o clique de uma caneta caindo no chão de mármore. Ninguém teve coragem de se mexer para pegá-la.
“Eu tentei me matar,” eu disse.
Sussurros. Audíveis e imediatos. Mas ninguém falou.
“Cortei meu pulso na banheira, mas… ele me salvou… a tempo. Me conseguiu ajuda na forma de um terapeuta e até me levou à gala, onde fui entrevistada pela primeira vez.” Olhei para a repórter loira familiar que estava sentada na primeira fila. A que atende pelo nome de Maris.
Desviei o olhar.
Maris não desviou. Seu olhar permaneceu, caneta congelada no ar. Ela parecia diferente agora—menos altiva, mais humana. Como se o que eu disse tivesse removido a lente polida através da qual ela me via.
Voltei meu foco para a multidão.
“Vocês todos viram aquela entrevista,” continuei. “Mas o que vocês não viram foi a parte em que tive que ser convencida a sair do meu quarto. O que vocês não viram foram os guardas posicionados em cada saída caso eu fugisse. O que vocês não viram… foi ele.”
Virei-me ligeiramente para Hades novamente. Minha voz estava mais suave agora. Não fraca. Reflexiva.
“Vocês não viram como ele se sentou ao meu lado, em silêncio, por uma hora antes que eu pudesse respirar adequadamente. Como ele não me forçou. Não me ordenou. Apenas esperou. Como se… minha vontade ainda importasse.”
O murmúrio que se espalhou não foi de choque desta vez—mas de algo mais. Algo mais perigoso na política.
Compaixão.
“Eu não me apaixonei naquele dia,” esclareci rapidamente, elevando minha voz acima do burburinho nascente. “Esta não é uma história de conto de fadas. Eu não fiquei extasiada, ou esqueci o sangue entre nós, ou fingi que ele não me machucou antes.”
Inalei.
“Mas comecei a ver o homem por trás do monstro. Assim como ele começou a ver a mulher por trás das cicatrizes.”
A isso, Hades se mexeu visivelmente. Não em direção ao desconforto, mas ao orgulho. Orgulho silencioso, sutil. Sua mão repousou sobre a mesa, aberta, perto da minha. Eu não a segurei desta vez. Mas deixei que ficasse perto.
“E ainda assim, não foi fácil. Houve discussões. Gritos. Silêncio. Portas batidas com tanta força que a Torre tremia. Tenho certeza de que alguns de vocês aqui ouviram.”
Alguns repórteres riram baixinho.
“Mas não desistimos. Não por romance. Por necessidade. Porque esse laço—essa maldita profecia—nos forçou a enfrentar não apenas um ao outro, mas a nós mesmos. Nosso luto. Nossa raiva. Nossas perdas.”
Meus olhos varreram o mar de rostos novamente.
“Vocês sabem como é perder alguém. Alguns de vocês viveram através de um cataclismo que destrói tudo ao seu redor. Os incêndios. Os golpes. Vocês sabem o que a guerra faz. Ela não apenas rouba vidas—ela muda os sobreviventes. A guerra não pergunta quem está certo. Ela apenas continua.”
As câmeras piscavam. Luz após luz como pequenas explosões de calor contra minha pele.
“É por isso que estou aqui. Não para provar que sou inocente. Não para pedir que gostem de mim. Mas para dizer a verdade: esta guerra, aquela na sua porta, não será vencida apenas pela lealdade. Será vencida pela verdade. Pela unidade. E por líderes que não têm medo de sangrar diante de vocês.”
Eu dei um passo levemente para trás do pódio.
“Eu sangrei. Vocês viram, quer tenham percebido ou não. Vocês me julgaram por isso. E agora estou aqui, sem pintura, sem máscara, e inegavelmente ainda vivo.”
Hades ergueu-se ao meu lado, sua figura imponente silenciando a sala mais uma vez. Ele não falou. Ainda não. Não precisava. Sua presença era uma declaração final por si só.
Mas me virei para ele de qualquer forma.
“Você quer dizer algo?”
Ele olhou para mim, depois para a sala.
E balançou a cabeça uma vez.
“Você disse tudo.”
A imprensa começou a se agitar — perguntas tremendo nas bordas de suas línguas, canetas firmes em suas mãos, esperança e fome vivas em seus olhos.
Mas Montegue avançou mais uma vez.
“Isso é tudo por agora. As perguntas serão respondidas durante o próximo segmento. A segurança irá guiá-los pelos caminhos designados.”
Gemidos, protestos, estalos de obturadores.
Mas ninguém desobedeceu.
Eu disse que coloquei os alicerces para a verdade. Mas logo eles me questionariam sobre tudo o mais. Eu me apresentar, colocando isso para eles foi por credibilidade e para garantir que a próxima parte fosse tomada como verdade, porque a primeira parte foi o mais genuína possível.
Era necessário.
Porque o que viria a seguir… abalaria a pouca paz a que este reino ainda se apegava.
Eu já podia sentir as perguntas por trás de seus olhos. O peso delas. Eles não estavam aqui apenas para ouvir sobre nosso casamento, ou minha redenção, ou mesmo minha dor. Esse foi o prelúdio humanizador — a parte que me tornava real. Relatável. Quebrável.
Mas a próxima parte?
Foi onde tudo quebrou.
Montegue anunciou uma pausa de cinco minutos, tanto para os oradores quanto para os repórteres colocarem suas coisas em ordem.
—
Hades
Assim que Montegue anunciou o intervalo de cinco minutos, eu me voltei para ela.
Eve estava de pé com as mãos ainda ao lado do corpo, os dedos tremendo como se não soubessem se deviam se fechar em punhos ou agarrar algo. Sua expressão permanecia composta, mas eu vi o leve pulso em seu pescoço batendo rápido demais.
“Você foi brilhante,” eu disse baixinho.
Seus ombros ergueram-se, seguraram a respiração, e depois caíram.
“Brilhantismo não me salvará da próxima rodada.”
Eu me aproximei, baixando minha voz para um murmúrio que só ela poderia ouvir. “Você consegue.”
Seu olhar subiu para o meu. Havia um tremor em seus olhos, mas não de medo — mais como aço aquecendo numa forja.
“Você está pronta?” eu perguntei.
“Não,” ela respondeu, mas se endireitou mesmo assim. “Mas isso nunca me impediu antes.”
Voltamos ao palco.
As luzes acenderam novamente. A imprensa retornou como cães de caça após um rastro, desta vez não mais contida. As regras haviam mudado. A primeira parte foi um monólogo.
Esta parte era guerra.
A voz de Montegue ecoou nitidamente.
“Segmento Dois: Perguntas Verificadas.”
Ele fez um gesto para a primeira jornalista — uma mulher em um elegante traje azul-marinho com um crachá da Tribuna Oriental.
Ela se levantou, virando uma página em sua prancheta.
“Senhora Eve, primeira pergunta — rumores circularam desde sua primeira transformação de que seu lobo não é totalmente lobisomem. Que ele tem traços de Lycan. É verdade que seu lobo é, de fato, um Lycan?”
Um silêncio caiu.
A coluna de Eve não se moveu um milímetro. Ela respirou profundamente e se inclinou em direção ao microfone.
—
Eve
“Não é um boato,” eu respondi claramente. “É um fato.”
Um suave murmúrio percorreu a multidão.
“Meu lobo, Rhea, é um Lycan.”
A reação foi explosiva.