A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 358
Capítulo 358: Verdade, Sem Filtros
Hades
O mármore sob nossos pés ecoava cada passo como uma contagem regressiva. Seis horas se passaram — mal tempo suficiente para preparar o esquema de segurança, convocar a imprensa, e colocar a Torre em modo de controle de danos. E agora, o momento havia chegado.
Eve estava ao meu lado, braços cruzados enquanto Lucinda lhe oferecia a última opção: um pincel de maquiagem.
Ela nem sequer olhou para ele. “Não.”
Lucinda piscou. “Você tem certeza?”
O maxilar de Eve estava firme. “Sim. Se eu aparecer com maquiagem perfeita enquanto as pessoas pensam que estamos envenenando suas linhagens, eles vão achar que fui instruída. Polida. Falsa.”
A voz de Kael cortou os aparelhos de comunicação. “As câmeras estão rodando na câmara adjacente. Eles estão esperando.”
Mas ele não precisava anunciar isso. O burburinho dos repórteres vibrava pela minha pele.
Lucinda hesitou. “Mas só um toque de corretivo—”
“Quero que vejam meu cansaço,” disse Eve. “As cicatrizes. O peso. Não estou aqui para ser adorada.”
Ela se virou para mim, seu perfil afiado sob a fria iluminação da torre. “Não vencemos com perfeição, Hades. Você entende isso, certo. Eles querem a realidade, damos a eles o que querem.”
Eu assenti, embora uma parte de mim odiasse isso. Odiava que ela estivesse certa. Odiava que eu não pudesse protegê-la do que viria a seguir. Mas fazia todo sentido deixá-la ser formalmente apresentada assim.
As portas que levavam ao salão principal estavam fechadas por enquanto. Logo atrás delas, o clamor dos jornalistas, câmeras piscando, e conspirações sussurradas zuniam como vespas contra o vidro.
O mesmo salão em que estivemos antes.
Onde ela pressionou seus lábios contra os meus, não por amor, mas para me envenenar. Parecia uma vida atrás. Olhei para ela e a vi momentaneamente perdida, olhando para o espaço. Seu pé batendo nervosamente como vinha fazendo desde que chegamos aqui.
Desloquei meu peso, braços cruzados atrás das costas.
“Você se lembra?” perguntei baixinho.
Eve olhou para mim, confusão marcando seu rosto. “Do que você está falando?” Suspeita infiltrando-se em seu tom, antecipando o que viria a seguir, cortesia da piada que fiz na noite anterior para aliviar sua ansiedade.
“Aquele beijo quase me matou.”
Seu lábio tremeu, a realização preenchendo sua expressão. “Apenas quase.”
Olhei para o lado antes que a dor pudesse fazer mais do que pulsar. Ela me beijou para me machucar. E agora ela falaria por mim para me salvar.
Sem roteiro. Sem manipulação.
Apenas a verdade.
Montegue se aproximou, ajustando os punhos de seu casaco. “A imprensa está pronta. Estão espumando por isso. Apenas diga a palavra.”
Eve virou-se completamente para mim. Seus olhos turquesa continham algo que nenhum de nós poderia definir mais — destruição mútua, talvez. Talvez algo mais.
“Você não precisa entrar comigo,” ela murmurou.
“Eu sei,” eu disse. “Mas eu vou.”
Os guardas nas portas duplas acenaram uma vez, aguardando nosso sinal.
A voz de Kael veio novamente pela linha. “Três minutos. Você está liberada.”
Os dedos de Eve roçaram a frente de seu casaco. Sem armadura. Sem símbolo. Sem coroa.
Apenas a gêmea amaldiçoada da qual o mundo queria respostas.
Inclinei-me levemente. “Você não deve nada a eles.”
“Eu sei,” ela sussurrou.
As portas se abriram com um gemido.
Uma onda de flashes de câmera irrompeu como um segundo nascer do sol. Repórteres avançaram, contidos apenas pela linha negra de Gammas estacionados como estátuas.
Eve avançou. Eu a segui.
A gêmea amaldiçoada caminha para o fogo.
E o rei segue a mulher que uma vez o envenenou.
—
Eve
As luzes batiam como facas — brilhantes, afiadas, implacáveis. Elas me inundaram em uma enxurrada, refletindo dos pisos de mármore e do pódio cromado à frente. As câmeras não pauseram. Nem os flashes. Mas o barulho — esse morreu instantaneamente.
Sem gritos.
Sem perguntas.
Sem movimento.
Apenas… silêncio.
Como se a sala tivesse aspirado uma respiração coletiva e esquecido como soltá-la.
Dúzias de repórteres, oficiais, gravadores em mãos e bocas abertas no meio de uma frase, simplesmente congelaram. Eu podia ver o branco de seus olhos, arregalados, atônitos, como se eu tivesse saído de uma tumba em vez de um corredor.
E talvez eu tivesse.
Eu não vacilei. Caminhei à frente.
Mas senti seus olhares como algo quase físico. O peso de mil perguntas mal contidas pela polidez. Pelo choque. Pelo medo.
Eu tomei meu assento na mesa central. Um holofote queimava sobre mim. Outro, ao lado, na cadeira vazia que Hades ocuparia.
Eu o ouvi antes de vê-lo — botas lentas e firmes. Ele deslizou para o assento ao meu lado, sua mão encontrando a minha sob a mesa. Seu polegar pressionou uma vez contra o interior do meu pulso. Um gesto de aterramento. Um silencioso estou aqui.
Mas a imobilidade não durou.
Um murmúrio começou. Baixo. Então ondulando.
“É realmente ela—?”
“Essa é a gêmea amaldiçoada—”
“Ela não está algemada — por que não está—”
“Esperem, ela parece… jovem. Jovem demais.”
“Sem coroa. Sem marca. O que é isso?”
Inalei lentamente, olhos varrendo a multidão.
A maioria estava atônita. Muitos estavam céticos. Alguns pareciam prontos para me devorar viva.
Mas nenhum deles desviou o olhar.
Montegue avançou para a borda da plataforma e levantou a mão. “Vocês terão suas perguntas. Mas primeiro—ouçam ela. Essa é a única condição desta coletiva de imprensa. Vocês vão ouvir.”
E então ele se afastou.
Hades apertou minha mão uma última vez e soltou.
Eu me levantei.
Não havia papel na minha frente. Nenhum roteiro. Nenhuma abertura perfeita.
Então comecei com a única verdade da qual eu podia ter certeza. Meu nome.
“Meu nome é Eve Valmont,” eu disse, voz clara mas suave o suficiente para silenciá-los novamente. “Filha de Darius Valmont da Matilha Silverpine.”
Algumas canetas pararam no meio da escrita.
Eu não pisquei.
“Irmã gêmea de Ellen Valmont.”
Agora alguns suspiros.
Continuei. “E eu também sou a Gêmea Amaldiçoada da Profecia da Divisão de Fenrir.”
E assim, a sala exalou.
Suspiros. Murmúrios. Várias cadeiras rasparam para trás. Um dos estagiários mais jovens cobriu a boca como se tivesse visto um fantasma. Outro homem sussurrou algo furiosamente em um dispositivo de comunicação.
Mas ninguém falou em voz alta ainda.
Eles estavam esperando.
Esperando pelo que viria a seguir.
Eu segurei levemente a borda do pódio. “Tudo o que vocês ouviram sobre mim—algumas coisas são verdadeiras. Outras não. E algumas nunca deveriam ter sido conhecidas de forma alguma.”
Lancei um olhar para Hades. Ele não tinha se movido. Mas sua presença ao meu lado era uma muralha—firme, silenciosa, imóvel.
“Hoje, eu não estou aqui para criar uma narrativa. Não estou aqui para convencer vocês de que sou uma heroína ou uma vítima ou qualquer coisa entre isso. Estou aqui para contar a verdade—porque é a única coisa que nos resta.”
Olhei de volta para a imprensa. “Vocês terão suas perguntas. Vocês merecem elas. Mas para o bem da clareza… deixe-me começar do início.”
Os murmúrios diminuíram novamente enquanto todos ouviam.
Hades apertou minha mão novamente e eu comecei.
“É verdade,” eu disse suavemente, “que eu não sou Ellen Valmont.”
Um silêncio caiu novamente, aprofundando-se à medida que aquelas palavras se assentavam como poeira.
“Eu sou sua gêmea. Aquela que se transformou.”
Vi a confusão se formar em suas sobrancelhas. A incredulidade. O desespero mental desesperado para associar o nome Ellen ao rosto que memorizaram de retratos, filmagens e relatórios.
Mas eles não conseguiam. Porque aquela garota nunca existiu de verdade.
“Eu me transformei em uma Lycan no meu décimo oitavo aniversário. Não Ellen. Eu.”
Suspiros ecoaram. Alguém xingou baixinho.
“Meu lobo—Rhea—surgiu com tanta força que quebrou o chão do salão sob mim. E no caos que se seguiu, eles me acusaram de envenenar minha irmã. De tentar matar a ‘gêmea abençoada’. Mas era uma mentira. Uma cobertura para o que eles temiam mais do que a morte: profecia.”
Ergui o queixo, deixando que me vissem—exatamente como eu era.
Dedos voaram sobre datatabuleiros. Câmeras clicaram em ritmo. Mas ninguém interrompeu.
“Eles me despojaram do meu nome, da minha identidade. Me trancaram em uma caixa de concreto tão profunda que nem a luz da lua podia me alcançar. E então… eles falsificaram minha execução.”
Vários queixos caíram.
“A garota queimada na fogueira há cinco anos não era eu. Ela era uma atriz, uma performance sacrificial para a Matilha Silverpine salvar a face. Para dar ao mundo um fechamento, enquanto eu apodrecia em silêncio sob os pés deles.”
Exalei lentamente. “Cinco anos eu passei lá. Sozinha. Esquecida. Sem julgamento. Sem visitas. Nem mesmo um espelho adequado. Fui experimentada, por ordens do Alfa Darius. Fui esvaziada continuamente por Mata-lobo.
Um silêncio sombrio substituiu o resmungo. O peso da injustiça começou a pousar—e doía.
“E então, por algum milagre político retorcido, fui trazida à tona. Não para ser libertada. Não para ser ouvida. Mas para ser… casada.”
Meu olhar deslizou para Hades por um momento—medido, não sentimental.
“Sua Majestade foi oferecida minha mão em casamento como um tratado de paz.”
Algumas vozes se agitaram novamente, confusas e alarmadas.
“Sim. A gêmea amaldiçoada, entregue em troca de negociações. Por imagem. Por aparência.”
Olhei para a multidão.
“E ele aceitou.”
Deixei aquilo pairar ali—não como culpa, mas como verdade. Todos os lados nesta guerra tinham sangue sob as unhas.
“Eu entrei nesta torre não como uma Luna. Nem mesmo como uma mulher. Eu vim como o fantasma vivo de uma profecia que ninguém teve coragem de enfrentar.”
E agora eles estavam enfrentando ela.
Ao vivo.
Sem filtro.
Eu segurei o pódio com mais força. “Foi aí que tudo começou. E só piora a partir daqui.”