A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 343
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Capítulo 343: Amarrado Por Ele e Ela
O rosto de Montegue estava carregado de solenidade enquanto ficávamos frente a frente, meus braços cruzados enquanto falava. Suas ações tão próximas ao Rito foram como um esfregar sob meus pés, a queda teria doído ainda mais se eu não estivesse tão preocupado com Hades e sua sobrevivência, enquanto ainda tentava compreender o fato de que Elliot também tinha o fluxo dentro dele.
Não se tratava de Elliot não estar lá para alcançar Hades quando a hora chegasse, mas sim de ser surpreendido. Não encontrar Elliot na sala, com medo de nunca vê-lo novamente.
“Para ser honesto, eu estava sobrecarregado com o estado das coisas, e parecia que a cada segundo que passava, havia outra revelação que colocava todos os nossos planos cuidadosos de cabeça para baixo. Eu sou velho o suficiente para saber quando estou sendo superado… mas não tolo o suficiente para fingir que não estou sendo afetado.” Montegue disse, suas palavras foram apressadas, mas coerentes, compreensíveis. Porque eu senti o mesmo.
“Eu queria levar Elliot, meu neto, para bem longe de tudo isso. Essa confusão rebuscada de verdades, mentiras, conspiração e tragédias. Ele não merece essa vida. E ser novamente usado como um peão e obrigado a salvar alguém em um mundo que ele não deveria conhecer tão jovem. Eu não podia sentar e assistir enquanto ele era ainda mais traumatizado. Eu falhei uma vez e não podia fazer isso de novo.” Suas sílabas ficaram trêmulas, as palavras perdendo sua coerência quando a emoção o dominou. “Eu não podia falhar com Dani novamente. Culpei Hades por anos, mas eu vi as semelhanças em seus gestos, aquele brilho cintilante naqueles olhos, eu os conhecia tão bem. Era Dani olhando de volta para mim. Eu fui estúpido o suficiente para deixar orgulho, ego e algum senso injustificado de… justiça me cegar para o que mais importava.”
A voz de Montegue quebrou.
Não foi alta. Não precisava ser. O peso dela se acomodou entre nós como os resquícios de uma tempestade—úmido, pesado e impossível de ignorar.
Eu descruzei os braços.
Não porque não estava mais bravo. Eu ainda estava. Ele havia agido sem aviso. Ele havia arriscado fraturar uma aliança já esfarrapada quando estávamos pendurados pelo fio mais fino e desgastado.
Mas ele também era… humano. E quebrado de maneiras que eu não havia visto antes.
“Eu não sabia o que fazer,” ele continuou, agora mais quieto. “Continuei vendo Danielle. Não apenas em Elliot. Mas em você. O jeito que você parecia quando ele correu para seus braços do quarto onde ele se trancou. O jeito que você lutou para salvar Hades, mesmo quando não tínhamos certeza se havia algo para salvar. Isso é o que ela teria feito também.”
Seus olhos se levantaram para os meus.
Havia sofrimento ali. Cru e nu.
“Eu entrei em pânico,” ele confessou. “Tomei uma decisão por medo, e não posso voltar atrás. Mas eu juro por tudo que me resta… não fiz isso para te trair. Fiz isso porque eu o amo. E eu já perdi muito para arriscar o que me restou.”
Exalei devagar, pressionando a palma da mão contra o peito.
A dor não vinha apenas de suas palavras. Era das minhas. As que eu engoli em vez de gritar. As que eu enterrei sob o dever, a disciplina, planos de guerra, Ritos e correntes forjadas de sangue divino.
“Eu entendo,” eu disse, minha voz apertada. “Mas por que você libertou Felícia também? Por que ajudou ela a escapar?”
Seu maxilar apertou, mas uma expressão conflituosa passou por seu rosto marcado pelo tempo e pela dor, preocupação abatida, envelhecida pelo estresse e medo do desconhecido, olhos assombrados assentados profundamente em órbitas encovadas. “Eu precisava que ela nos dissesse quem era a Delta. A que tirou a voz do meu neto. A que o incapacitou.
“Eu não sabia se sentia ódio ou tristeza quando a vi novamente,” ele disse rouco. “Ela ainda era minha filha… e ainda assim não era. E quando ela me pediu para deixá-la em seu antigo quarto, pensei que era sentimental. Uma despedida, talvez. Mas não era.”
Ele passou uma mão sobre a boca.
“Ela nos deu um nome em troca. A Delta que envenenou Elliot. A que roubou sua voz, mascarou isso como intervenção médica. Foi—” Ele exalou com força. “—a Sra. Miller.”
Meu sangue gelou.
Sra. Miller.
A cuidadora que desfilava como gentil e dedicada. A mesma mulher que Hades quase matou semanas atrás por me incriminar.
“Essa mulher…” Eu disse, a voz tensa de descrença.
Um silêncio pesado caiu.
“E Elliot?” Eu perguntei, minha voz mais suave agora. “O que aconteceu quando ele recuperou sua voz?”
Montegue desviou o olhar, como se a memória doesse.
“Ele não gritou. Ele não chorou. Ele apenas disse uma coisa.”
Meu peito se apertou.
“O que ele disse?”
Montegue olhou para mim, os olhos vidrados. “‘Papai está lá dentro. Eu o ouvi.'” Sua voz rachou. “E então ele disse, ‘eu não tenho medo. Eu quero ajudá-lo.’
Meus joelhos quase cederam.
“Ele não hesitou,” Montegue disse, a voz trêmula. “Ele caminhou direto para a câmara. Sem lágrimas. Sem perguntas. Ele disse… ‘Eu sei como alcançá-lo.’ Como se fosse a coisa mais simples do mundo.”
Não era.
Era tudo.
Elliot não apenas sobreviveu. Ele escolheu—salvar Hades, enfrentar o fogo pelo homem que o falhou, e perdoar da maneira que apenas uma criança poderia.
“Eu o deixei ir,” Montegue sussurrou. “Porque ele me pediu.”
Cobri minha boca, a emoção me sufocava.
“E é por isso,” ele terminou, “que me movi da forma que fiz.
A voz de Montegue afinou até se tornar um sussurro. “Minha vida desmoronou, Eve.”
Ele parecia tão cansado—como se a dor o tivesse esvaziado por dentro, raspado a medula dos ossos e deixado apenas a casca de um homem que já havia se mantido ereto em palácios, em conselhos de guerra, em julgamentos.
“Passei tantos anos cavando entre as cinzas,” ele disse com voz rouca. “Caçando o assassino de Danielle. Apontando dedos. Realizando funerais sem encerramento. Tudo enquanto a verdade estava sob meu teto—sangrando da mesma veia que ela. Meu próprio sangue…”
Sua garganta trabalhou. “Eu não enterrei minha filha. Não realmente. Eu enterrei um fantasma. E eu—” Ele balançou a cabeça, a voz falhando. “Eu deixei meu neto ser machucado. Silenciado. Usado. E eu—deuses, eu não parei isso. Eu nem vi isso. Que tipo de homem isso faz de mim?”
Sua mão tremia ao lado, cerrada em um punho frouxo como se ele não confiasse em si mesmo para deixar ir.
Ele parecia que poderia desmoronar de novo.
Então eu dei um passo à frente.
“Monte,” eu disse suavemente.
Ele congelou.
Ninguém o chamava assim há muito tempo—
Ele piscou enquanto eu o alcançava, meus braços se deslizando em volta de sua estrutura. A princípio, ele ficou parado como uma pedra—respiração suspensa, corpo travado naquele momento suspenso entre instinto e descrença.
E então ele exalou.
E se inclinou em mim.
Não era muito. Uma leve inclinação da cabeça. Um levantamento hesitante do braço em volta do meu ombro. Mas era o suficiente. O suficiente para dizer que eu precisava disso também.
“Você é um bom pai,” eu sussurrei contra seu peito. “Danielle teve sorte de ter um homem como você.”
Ele soltou um suspiro trêmulo, e eu senti seu aperto se apertar levemente. Não com dominância. Mas com gratidão. Vulnerabilidade.
E em algum lugar profundo da minha mente, eu me lembrei do meu próprio pai.
O tirano.
O homem que usava o medo como disciplina e a crueldade como orientação. Que distorcia o significado de família até que parecesse mais um laço que um nome.
Não havia calor ali. Nem braços que abraçassem ou palavras que acalmassem. Apenas lei. Apenas punição.
Então isso—este momento com Montegue—era algo que eu nunca pensei que teria. Um momento com um homem que lamentava como um pai deveria. Que amava como um.
Eu me afastei apenas o suficiente para encontrar seus olhos.
“Elliot é meu filho,” eu disse gentilmente. “E ele é seu neto. Isso nos faz algo também. Família, gostemos ou não.”
“Você me lembra dela,” ele disse, a voz baixa. “Não por memórias—sei que você nunca a conheceu—mas em espírito. Na maneira como você protege o que ama. Em como você mantém sua posição mesmo quando o mundo está desmoronando.”
Eu engoli em seco.
Havia uma dor estranha ao ouvir isso. Não culpa, nem mesmo pesar—apenas a sensação de ser medido contra alguém que eu nunca conheceria, mas cuja ausência moldou tudo o que agora eu mantinha querido.
“Eu costumava me perguntar que tipo de mulher Danielle deve ter sido,” eu murmurei. “Para amar Hades da maneira que amava. Para dar à luz um filho como Elliot… sabendo que nunca o criaria.”
A respiração de Montegue ficou presa.
“Ela morreu horas depois que ele nasceu,” eu continuei, minha voz agora mais baixa. “Não foi no parto. Nem por nenhuma causa natural. Ela foi assassinada. Antes mesmo de segurá-lo propriamente. Antes de dar-lhe um nome.”
A respiração de Montegue tremeu, suas mãos se curvando. “Eu sei,” ele sussurrou, a voz carregada. “Eu sei que ela nunca teve a chance.”
Por um momento, nós dois ficamos ali, suspensos em uma dor que não era inteiramente nossa—mas nos prendia ainda assim.
“Eu costumava falar com ela,” ele continuou, os olhos distantes. “Em meus sonhos. No silêncio. Sempre perguntando se eu havia feito certo por ela… se eu havia mantido seu filho seguro. E toda vez, ela permanecia em silêncio.”
Eu pisquei contra a ardência em meus olhos. “Talvez ela não estivesse em silêncio,” eu disse. “Talvez ela estivesse esperando. Por isso.”