A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 339
Capítulo 339: Seu Final
Eve
As asas de Vassir se dobraram lentamente, quase gentilmente, como se a conversa—este momento—importasse mais do que toda a ruína que nos cercava.
> “Há… um último segredo,” ele disse, a voz afundando no vazio como uma pedra na água.
Eu me tensei. Todo instinto me dizia para me preparar para a crueldade. Para uma última crueldade.
Mas o que veio não foi crueldade.
Foi… revelação.
> “Você se pergunta por que ele pôde me carregar,” Vassir disse. “Por que ele não se quebrou. Por que o Fluxo o escolheu quando queimou através de reis, santos, monstros. Por que o veneno criou raízes—mas não o apodreceu.”
Ele deu um passo à frente. Eu não me mexi.
> “Porque ele é meu.”
Minha respiração falhou.
> “Ele resistiu a você,” eu contestei, a voz mal firme. “Ele lutou contra você.”
> “Ele lutou,” Vassir reconheceu, inclinando a cabeça, aquele pesar retornando ao seu rosto estranho e desgastado. “Como eu uma vez resisti ao que era. Mas o profundo chama ao profundo. O ódio reconhece a forma que o amor veste.”
> “O que você está dizendo?”
Seus olhos se fixaram nos meus—e neles, eu vi algo que nunca esperei: não apenas orgulho.
Mas afinidade.
> “Você é Elysia,” ele disse suavemente. “Ou o que resta dela nesta vida. E ele… Hades… Lucien…”
Seus lábios se curvaram em algo que pode ter sido um sorriso.
> “Ele sou eu.”
Eu pisquei.
As palavras não se encaixaram bem. Não faziam sentido. Elas tilintaram em meu crânio como pedras em um pote.
> “Mas… você está aqui.”
> “Apenas o que resta,” Vassir disse. “Um veneno sem cobra. Uma raiva que sobreviveu ao seu mestre. Minha alma queimou há muito tempo. Mas minha essência—o eco do que eu fui—agarrou-se ao escuro. Esperando.”
Eu o encarei, tonta.
> “Você está dizendo que Hades é sua reencarnação?” eu sussurrei.
> “Não uma marionete. Não um clone. Não um receptáculo. Um renascimento. Uma segunda chance forjada em sangue, fogo e profecia. Onde eu falhei… ele talvez não falhe.”
Meus joelhos ameaçaram ceder. Minha garganta se fechou.
> “Mas ele lutou contra você,” eu respirei novamente.
> “Porque ele é melhor do que eu jamais fui,” Vassir disse. “Porque ele te amou em todas as vidas. Porque o que envenenei, ele ainda tentou proteger.”
Minhas mãos tremeram. Minha visão embaçou.
> “É por isso que você não pôde destruí-lo,” eu sussurrei. “Por que até mesmo seu Fluxo se quebrou ao redor dele. Porque ele é você… mas ele me ama mais do que você jamais poderia.”
> “Sim,” Vassir disse calmamente. “E é por isso que vocês sempre encontrarão o caminho um para o outro. Como eu uma vez a encontrei.”
Ele gesticulou para o vazio ao nosso redor.
> “Este é o veneno,” ele disse. “Eu sou a podridão. O ódio. A ruína deixada por um homem que não podia deixar ir.”
Eu balancei a cabeça lentamente. O luto—seu luto—era real. Antigo. Insuportável.
> “Então, o que acontece agora?” eu perguntei.
> “Agora?” Ele inclinou a cabeça para o céu, embora não houvesse céu, apenas escuridão.
> “Agora você vive.”
Seu olhar encontrou o meu uma última vez.
> “Salve-o. Salve a si mesma. Faça esta história terminar de forma diferente da nossa.”
O vazio pulsou novamente, uma onda como o fim dos tempos.
Então veio o som.
Um estrondo baixo. Não de baixo ou em volta, mas de dentro do próprio espaço. O reino estava desmoronando. Não em ruína—mas em purificação. O tipo de destruição que não destrói para o caos, mas abre caminho para a verdade.
Os olhos de Vassir se voltaram para cima, depois para mim.
> “É hora,” ele disse suavemente, sua voz agora desprovida de malícia. “Este lugar foi construído para aprisioná-lo. E agora, ele se desfaz porque ele escolheu a liberdade.”
As bordas do vazio começaram a se iluminar—não com luz, mas com memória. Fios de vidas, linagens, batalhas, beijos, gritos e promessas flutuavam como partículas de poeira em um raio de sol que nunca existiu. Esta era a memória de um mundo morrendo.
> “Mas antes de você ir,” Vassir disse, aproximando-se, asas enroladas firmemente contra suas costas, “há mais uma coisa que você precisa saber.”
Eu olhei para cima, ainda tremendo, a verdade sobre o que ele era—o que Hades era—ainda uma chama ardente sob minha pele.
> “A Lua de Sangue,” ele disse, a voz afinando em algo menos corpóreo, “não é o que vocês acreditam. Não é uma profecia, não é um presságio de calendário. É um portão. Um ajuste de contas. Ela marca não o retorno do poder, mas o desmantelamento da ordem.”
O vazio se rachou sob nossos pés. O desmantelamento havia começado.
> “A guerra não será entre lobos e licantropos. Nem entre deuses e mortais. Será contra o próprio fim. E apenas aqueles ligados pela alma, não pela lealdade, terão uma chance.”
Eu engoli em seco.
> “O que devo fazer?” eu sussurrei. “Como posso lutar contra algo assim?”
Ele estendeu a mão lentamente, dedos com garras tocando o espaço ao lado do meu coração. Sem tocar—mas o suficiente para fazer algo em mim doer.
> “Encontre meu segundo chifre,” ele disse.
Meus olhos se arregalaram.
> “O quê?”
> “Ele foi arrancado de mim antes da minha queda. Perdido. Escondido. Nunca foi encontrado, mas permanece—enterrado sob o sangue, esperando. Quando surgir, ele cantará. Não para você. Não para ele. Mas para aqueles que devem se levantar.”
Ele me encarou, como se tentando gravar o aviso em meus ossos.
> “Esse chifre é o chamado. Um grito de convocação. Sem ele, seu exército será poeira. Com ele…”
Ele se calou, sorrindo como um homem observando um fósforo queimar até o fim.
> “Com ele, os esquecidos se lembrarão.”
O calor se intensificou. Uma fissura se abriu através do vazio, e através dela vislumbrei a chama. Não fogo. Chama—branca, divina, pura.
> “Eu não sei o que você quer dizer?” eu admiti, a voz se quebrando.
Vassir deu um passo à frente até estarmos quase nos tocando. O chifre arruinado acima de sua sobrancelha brilhava em uma luz que não existia. E quando ele falou novamente, foi com algo que se assemelhava à graça.
> “Tudo ficará claro em breve. Siga o símbolo de Malrik. Você encontrará meu presente, meu chifre. O que resta de mim.”
O espaço ao nosso redor começou a se dissolver. Suas asas se soltaram, flutuando como se a gravidade nos tivesse abandonado. Sua voz baixou a um sussurro.
> “Perdoe-o.”
Eu não disse nada.
> “Mesmo deuses podem nascer na dor.” Ele sorriu
Então—ele se moveu.
Antes que eu pudesse reagir, seus braços—aqueles membros monstruosos—me envolveram. Não em ameaça. Não em reivindicação.
Mas em libertação.
Um abraço final.
> “Adeus, filha da lua,” ele murmurou em meu ouvido. “Adeus, luz que eu nunca mereci.”
Seu corpo tremia.
E então—
Se transformou em cinzas em meus braços.
Não poeira. Não ossos.
Mas memória.
Como se o veneno finalmente tivesse liberado seu controle, agora que a alma tinha um lugar para ir.
No momento em que ele desapareceu, o vazio colapsou para dentro com um silêncio ressonante.
E eu caí—de novo.
Não para a morte.
Mas para o começo.