Capítulo 313: Escolher
Meus joelhos cederam sob mim.
Não foi o som de sua voz—ou a voz dele.
Foi a maneira como ele disse meu nome.
Como se estivesse esperando.
Ansiando.
Como se o mundo simplesmente estivesse parado até eu chegar para testemunhar seu renascimento nele.
Eu olhei, congelada. Minhas mãos tremiam onde pairavam perto de seu rosto queimado, o cheiro de seu sangue afiado e metálico entre nós. Minha visão ficou embaçada, não de raiva, mas do tipo de tristeza que racha os ossos.
“Pare,” eu sussurrei. “Pare de me chamar assim. Ele não se foi—ele não está.”
Eu repeti, mas minha voz era menor desta vez.
Mais para me convencer.
Lágrimas caíram enquanto suas palavras me atingiam como um trem de carga no peito.
“EVE!” A voz de Kael rasgou o ar como um trovão. Minha cabeça virou na direção dele. “OLHE PARA FORA!”
Eu me virei, muito devagar.
Um rasgo molhado e repugnante rasgou o silêncio—e as costas do corpo de Hades se abriram.
Vermelho.
Liso.
Um par de asas monstruosas e carnais explodiu entre suas omoplatas, desdobrando-se com o som de músculos rasgando-se dos ossos. As bordas eram irregulares, veias de escuridão, pulsando com energia que não pertencia a este mundo.
E elas se moveram.
Rápido demais.
Uma asa repleta de tentáculos chicoteou na minha direção como uma serpente, sua ponta com espinhos visando minha garganta.
Mas Kael—Kael foi mais rápido.
Ele se jogou na minha frente.
“Não!” Eu gritei enquanto a asa se fechava em torno de seu pescoço como uma forca.
Houve um estalo doentio.
Seu corpo convulsionou no ar.
Suas garras cortaram instintivamente, rasgando a asa, mas ela não se mexeu—apenas apertou, levantando-o do chão como uma boneca de trapo.
Seus pés chutaram.
Seus olhos reviraram.
O som que ele fez—
Era molhado. Borbulhante. Um estertor lutando para não terminar.
“Kael!” Eu avancei, fúria inundando minhas veias, meu lobo uivando em um canto da minha alma. “Deixe-o ir!”
Mas a coisa—Vassir—apenas sorriu através da boca de Hades, sangue ainda pingando de seus lábios.
“Sempre o sacrifício, esse aí,” disse. “Leal. Descartável.”
Os membros de Kael se contorciam, gritos sufocados escapando dele
Aqui está a continuação arrepiante da cena, aprofundando o horror e as apostas emocionais:
—
Os membros de Kael se contorciam, gritos sufocados escapando dele enquanto a asa se apertava mais, músculos se despedaçando sob a pressão.
“Deixe-o ir!” Eu gritei novamente, avançando—mas o tentáculo se expandiu, me empurrando de volta contra a parede coberta de sangue com um baque que estremeceu meus ossos.
O sorriso de Vassir se alargou, monstruoso em sua loucura. Sua voz veio mais devagar agora—pingando veneno, entrelaçada com algo cru e rachado sob a superfície.
“O que ele é para você, Elysia?”
A pergunta não era curiosa.
Era amarga.
Envenenada de ciúmes.
“Por que ele se joga antes de você assim? Por que ele ganha suas mãos trêmulas? Suas lágrimas? Sua voz?”
Kael sufocou novamente, um som suave e agonizante—e meu horror multiplicou-se.
“Pare! Você me quer? Então me leve, apenas deixe-o ir!”
“Não,” Vassir disse, inclinando a cabeça lentamente. “Não, eu quero entender. Porque eu esperei. Eu esperei, Elysia. Através de séculos. Através de cinzas e ruína e renascimento.”
A plataforma em torno dele gemeu enquanto ele se esforçava contra ela, metal se dobrando a cada movimento de seus ombros. Os tentáculos se moviam como se estivessem com fome.
“Você sabe quantos rostos eu scanneei?” Sua voz se fraturou, tremendo com algo além de raiva. “Quantos vasos eu carvei com minhas próprias garras, abrindo suas mentes para te encontrar?”
Os pés de Kael mal tocavam o chão agora.
Suas garras estavam penduradas inertes.
Meus olhos correram para ele—sua pele estava empalidecendo muito rápido.
“Por favor!” Eu gritei. “Ele não tem nada a ver com isso!”
“Ele tem tudo a ver com isso!” Vassir rugiu. “Você olha para ele do jeito que costumava olhar para mim. Antes que os deuses te roubassem. Antes que aquele bastardo Malrik espalhasse seu nome pelo tempo.”
Suas asas tremiam de fúria. A plataforma finalmente quebrou, e ele caiu no chão com um estrondo metálico, ficando de pé—nu, sangrando, tremendo—com aquelas asas infernais desdobradas atrás dele.
Ele olhou para mim, não como Hades jamais olhou.
Não como um homem em dor.
Mas como um deus negado.
> “Nem meu chifre roubado. Nem o Trono de Ônix. Nem mesmo Malrik vai te manter longe de mim novamente.”
“Kael…” Eu sussurrei, engatinhando até meus joelhos. “Aguente firme.”
Ele não podia responder.
Sua boca abriu, depois fechou—seus olhos vidrados, mas ainda vagamente conscientes.
“Tragam reforços!” Eu gritei para os guardas que tinham vindo até mim para assistir a cena horrivelmente macabra se desenrolar
“Si–sim!” Eles ecoaram antes de recuar.
>”Rhea…”
>”Não podemos nos transformar, qualquer movimento repentino e ele quebrará seu pescoço. Eu o conheço.”
O corpo de Kael se contorceu novamente, mas mal.
E Vassir ainda estava me olhando.
Sorrindo.
Esperando.
> “Escolha,” ele disse. “Ele… ou eu.”
E eu percebi—
Isso não era apenas corrupção.
Era obsessão.
Tortuosa.
Eterna.
E agora totalmente desencadeada.
Minha garganta estava áspera.
“O que você quer de mim?” Eu rouquidamente perguntei, cada respiração raspando como vidro nos meus pulmões. “Você disse o nome dele. Você olhou através dos olhos dele e sorriu. O que você quer de mim?”
O sorriso de Vassir se torceu—grande demais, cruel demais. O sangue escorrendo por sua mandíbula brilhou como óleo sob a luz do laboratório.
“Aceitação,” ele suspirou. “Devoção. Sua vontade, dobrada à minha, como costumava ser—antes de você me esquecer. Antes deles te fazerem esquecer.”
O corpo de Kael se convulsionou novamente no ar, ofegos sufocados mal audíveis agora. A asa se enrolou mais apertada. Um de seus pés arrastou-se contra o chão.
“Eu não—” Minha voz falhou. “Eu não me lembro de nada disso. Eu não sou ela. Eu sou Eve.”
Os olhos de Vassir se estreitaram. “Você é Elysia. Você é minha.”
“Eu não sou.”
“Mas você tem que dizer,” ele sibilou, avançando, arrastando o corpo de Kael com ele como uma oferta pendurada. “Diga que me quer. Diga, ou eu vou apagá-lo.”
Todo instinto em mim gritava para lutar, para matar, para despedaçá-lo—mas um movimento errado, e Kael morreria.
Então eu fiz a única coisa que fez bile subir na minha garganta.
Eu acenei.
E sussurrei, “Eu… te quero.”
As palavras pareciam veneno em minha boca.
Meu corpo tremia.
Mas a forca da asa de Kael afrouxou um pouco.
Vassir piscou lentamente. “Isso não é suficiente.”
Eu sufoquei um soluço. “Por favor. Você disse—”
“Não,” ele disse, o sorriso desaparecido. “Palavras são vento. Eu quero prova.”