Capítulo 312: Hades Se Foi
Eve
Segundos se estenderam em horas enquanto eu descia voando pela escada, o grito desesperado de Kael ecoando atrás de mim. Eu não parei. Não podia. O elevador era lento demais e eu precisava de mais do que aquilo agora.
Andar após andar passava borrado enquanto eu despencava, o frio das paredes de concreto mal registrando contra o fogo nas minhas veias. Meu coração batia como tambores de guerra. Meus pulmões queimavam, mas eu não parei.
Eu não podia perdê-lo.
Não de novo.
> “Ele realmente não iria fazer isso, iria?” Perguntei a Rhea, minha voz era pouco mais que um suspiro frenético na minha mente.
O silêncio de Rhea era pesado.
E então—
> “Eu não consigo sentir Cérbero há dias,” ela disse, a voz rouca de pavor. “Ele sumiu. Afundou.”
“Eve… se o Fluxo conseguiu suprimir o lobo de Hades tão rápido após a exposição—então nunca foi uma luta. Foi uma apagamento lento. Um que a Veia do Vassir está agora acelerando.”
Eu tropecei no último degrau, mas me segurei no corrimão, apertando-o até meus nós dos dedos estalarem.
> “Se ele fizer isso…”
Eu não consegui terminar.
Eu não terminaria.
Pois dizer isso tornaria real.
Pois se Hades injetasse todas as quinze doses da Veia do Vassir.
Ele seria…
Apagado.
Somente o Fluxo permaneceria.
Um predador no corpo de um licantropo. Um Alfa. Um pai.
E mesmo que fosse por enquanto. Meu marido.
Eu arrombei as portas de emergência no final do corredor, o metal frio batendo na parede. O corredor era escuro e estéril, zumbindo com o baixo barulho dos luzes fluorescentes. O setor restrito. Laboratórios Inferiores.
Eu não sabia qual laboratório era.
Sem placas. Sem mapas. Apenas um trecho interminável de portas reforçadas e silêncio de aço frio.
Mas eu podia senti-lo.
Podridão—não o tipo que vem da morte, mas de algo errado—grudava no ar como mofo nos pulmões. Denso. Degradante. Familiar.
Você não pode mascarar esse tipo de podridão.
Não o tipo dele.
Nem mesmo atrás de titânio reforçado ou com guardas postados como estátuas do lado de fora dos laboratórios selados.
Pois a podridão dele não era apenas física. Era psíquica. Ela sangrava através das paredes. Sussurrava através das lajes do chão. Arranhava as bordas do pensamento como um cheiro que você não podia esfregar da pele.
Eu segui isso.
Cada passo levado como gravidade em direção a algo que apodrece.
Dois guardas estavam ao lado de um laboratório selado no final do corredor—um segurando uma prancheta, o outro de cara fechada, armado.
Eles se endireitaram à medida que eu me aproximava, mas eu não diminui a velocidade.
“Restrito—senhora, você não pode—”
Meus olhos encontraram os dele.
Ele parou no meio da frase.
Pois ele viu algo nos meus.
Raiva. Terror. Fogo.
“Sua… alteza. Ninguém está autorizado a entrar.” Mas ele não conseguia mascarar a incerteza na voz.
Eu coloquei minha palma no painel biométrico.
Ele piscou.
Acesso Negado.
Claro que estava.
Hades havia selado.
O fluxo sabia que eu viria e eu não me importava se estava certo ou se tinha me lido tão perfeitamente.
“Anule isso,” eu disse, virando-me para os guardas. “Agora mesmo. Abra a porta.”
Eles se entreolharam.
Nenhum se mexeu.
Um cerrou o maxilar. O outro deu meio passo para trás, mas se manteve firme.
“O Alfa emitiu um bloqueio total,” disse aquele com a prancheta. “Sem anulações. Nem do conselho. Nem mesmo de—”
“Eu não estou pedindo,” eu rebati.
Mesmo assim, eles não se moveram.
O medo deles era óbvio—mas não era medo de mim.
Era medo dele.
Do que estava atrás daquela porta.
E então—
Kael veio tropeçando pelo corredor, ensopado de suor, o rosto pálido como um fantasma e ainda manchado de sangue. A camisa grudava nele, rasgada e encharcada da corrida.
“Saiam—saiam!” ele arfou, praticamente desmoronando contra a parede ao meu lado. “Ele não vai sobreviver a isso—Eve, você tem que entrar lá!”
Os guardas mantiveram suas posições.
Um deles levantou uma mão. “Não podemos deixar ninguém entrar. O Alfa deixou isso claro. Ele disse que qualquer interrupção deve ser tratada como uma ameaça ao reino—”
Kael rosnou, “Você acha que isso não é uma ameaça ao reino?”
Nenhum dos dois se mexeu.
Pois eles não estavam nos olhando mais como se fôssemos pessoas.
Eles estavam nos olhando como se fôssemos civis.
E ele ainda era o Alfa deles.
Ainda era o deus deles.
Algo dentro de mim se quebrou.
A parte de mim que ainda acreditava que alguém o salvaria além de mim.
A parte que estava cansada de bater.
Sem aviso, meus ossos avançaram—a pele se rasgando em pelo e músculo. Minha forma de loba explodiu de mim em uma torrente de dor e fúria, e eu saltei.
Um guarda alcançou sua arma, mas era tarde demais.
Com um rugido, eu bati minha pata contra a porta selada. Um estalo doentio percorreu meu ombro quando o osso se deslocou pela força pura.
Eu não me importei.
De novo.
E de novo.
Eu rasguei o aço com garras feitas para quebrar montanhas.
Com dentes que não foram feitos para implorar.
Sangue pingava pelo meu membro. Minhas costelas gritavam. O metal se amassava, entortava.
As dobradiças gemiam a cada golpe, faíscas voando enquanto o metal reforçado se dobrava sob minha fúria. Cada golpe enviava nova agonia pelo meu ombro, mas não importava. Eu chegaria até ele.
Kael, não hesitou.
Com um rosnado rouco, ele se transformou parcialmente—seus braços engrossaram, garras surgiram de seus dedos—e se lançou no ataque ao meu lado. Juntos, nos tornamos um aríete.
Os guardas gritaram, recuaram desordenadamente. Um levantou uma arma, mas não atirou—ou porque estava congelado em descrença ou ainda leal o suficiente para hesitar.
E então—
A porta cedeu.
Ela rangeu ao abrir, meio arrancada de suas dobradiças, revelando o horror lá dentro.
Inferno.
O laboratório estava coberto de vermelho.
Sangue manchava as paredes. Pingava de vidros quebrados, acumulava-se sob carrinhos virados e encharcava os jalecos brancos de pelo menos três cientistas deitados imóveis no chão. Um se contorcia fracamente, dedos arranhando o chão, deixando um rastro carmesim.
E no centro de tudo—
Hades.
Despido.
Suspenso.
Pendurado como uma oferenda em cabides de metal presos à estrutura reforçada acima dele. Braços esticados, costas arqueadas, peito arfando como se seus pulmões estivessem se afogando em fogo. Veias negras se espalhavam pela sua pele, grossas e pulsando com um tom doentio e luminoso. A pele ao redor estava repleta de bolhas, rachada.
Sua cabeça pendia para frente—até que um tremor violento o ergueu com um suspiro gutural, inumano.
Ele não gritou.
Ele não podia gritar.
Porque sua boca estava costurada.
Um cientista trêmulo estava ao lado dele—quase inconsciente, camisa rasgada, uma mão enfaixada em gaze encharcada de sangue. Ele chorava, fungando, sussurrando algo enquanto inseria, trêmulo, outro frasco na linha intravenosa descendo pelo antebraço de Hades.
Frasco número… quatorze.
“Não,” eu soprei.
“Não, não, pare!”
Kael passou por mim e atacou o cientista, arrancando o frasco bem quando ele tentava empurrá-lo para dentro. O homem gritou, caindo no chão de exaustão e choque.
Eu avancei, com garras retraindo enquanto retomava parcialmente minha forma—suficiente para alcançá-lo.
“Hades,” eu engasguei, alcançando seu rosto. “Hades, olhe para mim.”
Ele não se moveu.
Até que seus olhos se ergueram.
Eles não eram totalmente dele.
Não mais.
Um olho brilhava vermelho, pulsando com o Fluxo. O outro—o dele—mal se segurava, enevoado pela dor e com reconhecimento cintilante.
Ele tentou falar, mas os pontos o mantinham em silêncio.
Seu corpo se contorceu contra as amarras como se quisesse colapsar, se encolher—mas a estrutura de metal o mantinha aberto como um crucifixo.
“Eve…” Kael sussurrou ao meu lado, voz vazia.
“Ele ainda está lá dentro.”
Mal.
Mas estava.
Alcancei com mãos trêmulas, acariciando o lado de seu rosto onde a pele não estava cheia de bolhas. Estava queimando—febril, rachada, tremendo sob meu toque.
Sua mandíbula se contraiu.
Sua respiração era irregular.
Mas ele não se afastou.
“Deuses…” eu sussurrei, voz se quebrando. “Olhe o que você fez a si mesmo…”
Meu polegar deslizou sob seu olho, onde o mais leve traço de azul ainda cintilava sob a corrupção.
Meu Hades.
Ainda se segurando.
Ainda sofrendo.
Kael avançou, mandíbula apertada, voz cortante. “Precisamos tirá-lo daqui. Agora.”
O cientista trêmulo choramingou do canto. “Você não entende… não podemos.”
Kael se virou para ele. “O que você quer dizer com não podemos?”
O homem se encolheu ainda mais na parede, sacudindo suas mãos ensanguentadas. “Ele se colocou lá. Ele quebrou as amarras que demos a ele. Usou a antiga estrutura do Setor Doze. Me forçou a preparar as doses. Disse que se eu recusasse, mataria todos nós—e quando um de nós recusou—ele o fez. Ele o despedaçou.”
Sua voz se quebrou, lágrimas correndo pelas bochechas sujas de fuligem e sangue.
“É loucura. Ele se foi—não é mais seu Alfa. Isso é outra coisa.”
Kael congelou.
Eu me virei de volta para Hades—não, para a coisa que costumava ser ele.
“Hades,” eu disse suavemente, desesperada. “Por favor—ouça-me. Eu estou aqui. Eu estou aqui. Você não precisa fazer isso.”
Seu corpo tremia.
Seus braços presos se flexionavam contra a estrutura.
E então—
Ele levantou a cabeça.
Olhos arregalados, selvagens, em chamas.
Um ainda enevoado de memória.
O outro—
Infernal.
E com um rasgo doentio, ele contraiu a mandíbula e rasgou.
Os pontos negros se romperam.
A pele se rasgou.
Sangue inundou seu queixo.
Um suspiro áspero saiu de seus lábios destroçados—úmido, gutural, selvagem—e então ele falou.
Mas não era a voz do meu Hades.
Era mais profunda.
Mais antiga.
Mais fria.
Olejosa.
“Elysia,” ele murmurou, sorrindo através do sangue. “Você veio.”
Meu estômago revirou.
“Não,” eu sussurrei. “Não faça isso.”
A coisa em Hades inclinou a cabeça, o sorriso se ampliando, mais escuro. “Você pode parar de chamá-lo. Hades está morto.”
Balancei a cabeça.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto.
“Não.”
“Eu sou Vassir,” ele disse, voz como lâminas raspando ossos. “E este corpo é meu agora.”