Capítulo 306: Um Filho Indesejado
Hades
O silêncio que seguiu o desabafo de Silas era frágil.
Como ossos sob muito peso.
Do outro lado da mesa, Eve ficou imóvel—seu rosto indecifrável, mas sua mão se fechou em um punho em seu colo.
Eu não tremi. Nem pisquei.
Em vez disso, inclinei-me lentamente, deliberadamente na cadeira, como se estivesse avaliando o valor de um homem pela rapidez com que ele pode conter sua língua.
“Parece perturbado, Embaixador,” disse eu friamente. “Gostaria que a entidade que atualmente ocupa minha mente esclarecesse as implicações desse nome?”
A temperatura na sala caiu.
As sobrancelhas de Montegue se contraíram. Kael ficou tenso novamente. Silas empalideceu completamente—seus lábios pressionando-se em uma linha fina de arrependimento.
“Eu—” ele começou.
Mas eu levantei minha mão.
“Não?” Ofereci suavemente, meu tom zombando da civilidade à qual ele se apegou momentos atrás. “Então sugiro que deixe o assunto descansar, antes que sua curiosidade atraia algo muito menos diplomático do que eu.”
Silas se enrijeceu. Os outros se moveram. Ninguém se ofereceu para apoiá-lo.
Ele limpou a garganta, o olhar desviando. “Deixa pra lá.”
“Bom,” eu disse secamente. “Vamos voltar aos trilhos.”
Montegue ergueu uma sobrancelha. “Então precisamos concordar com os parâmetros. O Ritual não é algo que improvisamos. Existem condições.”
Cain inclinou-se, a voz baixa mas firme. “Tem que ser realizado onde a ligação original foi primeiro estabelecida.”
O silêncio caiu novamente.
Cain não piscou. “Eterna Noctis.”
Eve olhou para cima, confusa. “Desculpe—aonde?”
Montegue respondeu. “Os campos de sepultamento de Elysia. A primeira Matriarca. O lugar onde a lua tocou a terra. Está protegido por ritos de legado. Ninguém fora da linhagem Stravos colocou os pés lá em mais de dois séculos.”
Gallinti se levantou, a mandíbula tensa. “E agora vamos deixar um lobisomem profanar isso?”
“Cuidado com o que diz,” eu disse, palavras afiadas o suficiente para cortar vidro.
Ele congelou.
Eu não levantei minha voz, mas a ameaça estava ali—enrolada, direta, inevitável.
“Ela não está profanando nada. Ela está mantendo o legado pelo qual Elysia morreu,” eu disse, meus olhos fixos nos dele. “Se isso é um problema, diga agora. Alto o suficiente para eu ouvir.”
Ninguém falou.
Cain rompeu a tensão com um encolher de ombros. “Então está decidido. O Ritual será realizado na próxima lua cheia. Em Eterna Noctis.”
Olhei para Montegue. “Você cuidará da logística. O local deve ser selado. Sem imprensa. Sem espectadores. Apenas o Conselho.”
“Entendido,” respondeu Montegue.
E assim, era real.
Nós definimos a data.
Nós nomeamos o local.
E agora, tudo que restava… era sobreviver a isso. Se ela sobreviver, especialmente não sendo uma licantropa mas julgando pelas visões, duvido muito que o espírito de Elysia se importe.
O Fluxo falou agora, inesperadamente quieto. >”Afinal, ela é sua reencarnação.”
—
>”Esse não é meu filho!” O tom do Fluxo era ácido no momento em que meus olhos caíram sobre Elliot, no momento em que entrei na sala.
As palavras atingiram como ácido no meu peito.
Eu congelei na entrada.
Elliot estava dormindo, pequeno e quieto, um braço jogado sobre sua cabeça como se não tivesse o peso de um império arrastando atrás de seu sangue.
Mas eu tinha.
E agora… ele também tinha.
> “Saia,” eu sibilei internamente. “Isso não tem nada a ver com ele.”
O Fluxo riu. Frio. Tortuoso.
“Tudo tem a ver com ele. Ele é a prova, não é? O erro. A consequência da sua infidelidade. Enquanto os ossos de Elysia estão sob Eterna Noctis… você procriou com outra. Agora que eu encontrei sua reencarnação, há uma chance…” Suas palavras saíram da minha boca cheias de veneno.
Eu cambaleei, uma mão apoiando a parede enquanto a pressão na minha cabeça aumentava, derretida, implacável. Minhas garras romperam a pele da ponta dos meus dedos sem eu chamar. Eu não as conjurei.
Elliot se mexeu na cama. Um pequeno suspiro.
Eu contive um palavrão.
> “Não vou deixar você tocá-lo.”
> “Você já deixou,” ele cantou. “Você deixou ele viver. Esse foi seu primeiro erro.”
Um pulso de raiva me atravessou, quente e cegante.
> “Eu vou corrigir seus erros,” prometeu o Fluxo. “Eu vou me livrar do erro eu mesmo.”
“Não!” Eu gritei desta vez, cambaleando em direção à cama, músculos contraindo em resistência.
Minha mão—minha, não minha—levantou-se, garras reluzindo sob a luz do teto.
“Como você pode voltar a ser dela quando a prova da sua traição respira sob o seu teto? Se ele não existisse, nada disso teria acontecido. Eve não teria sido implicada. Ela não teria que sofrer. Você não teria que machucá-la. Você a machucou por aquela coisa e aquela mulher, aquela Danielle.” Ele cuspiu o nome dela como uma maldição, as palavras como veneno em minha língua.
As palavras me abriram.
> “Você não vê?” sussurrou o Fluxo. “Nós ainda a teríamos.”
“Não—não,” eu sussurrei, tremendo, tentando prender minha mão traiçoeira ao meu peito. “Ele é apenas um menino.”
> “Ele é o seu pecado feito carne. E eu não vou deixar que ele a tire de nós novamente.”
Meus joelhos bateram no chão.
Eu rastejei o resto do caminho, até que estava ao lado da cama de Elliot—ofegante, dedos garras rasgando o azulejo enquanto eu lutava contra o impulso. Enquanto eu lutava contra mim mesmo.
Ele fez um ruído suave em seu sono.
E foi isso que me quebrou.
Lágrimas—lágrimas reais—escorreram além das minhas pestanas, misturando-se com o suor e o sangue.
“Não vou deixar você machucá-lo,” eu rosnava, voz falhando. “Você quer ela? Você quer redenção? Você faz isso através de mim. Não dele. Você não toca meu filho.”
> “Então você é mais fraco do que eu pensava,” rosnou o Fluxo. “E você vai perdê-la. De novo.”
“Então eu vou perdê-la fazendo a única coisa que ainda importa,” eu sussurrei. “Protegendo a parte de mim que ainda vale a pena salvar.”
A pressão aliviou—apenas um pouco. Mas eu podia senti-la recuar, se enrolando mais fundo nos meus ossos como uma víbora enrolada esperando para atacar novamente.
Isso não estava acabado.
Mas por agora…
Elliot estava seguro.
E eu ainda era seu pai.
Mesmo que tudo o resto estivesse quebrado.
No momento em que a pressão se aliviou, eu desmoronei de lado como uma marionete com os fios cortados. Meu corpo estava tremendo, suor e sangue grudando na minha pele como uma segunda camada, apodrecendo. Mas eu não me deixei descansar.
Eu não podia.
Uma doença estava escalando minha garganta—fétida, espessa, antinatural.
Eu me levantei cambaleando e vagou para o banheiro ao lado, mão no balcão de mármore, visão nadando. Meu reflexo era uma ruína—veias negras pulsando sob minha pele, meu olho corrompido semicerrado com loucura contida.
Então veio.
Eu caí de joelhos frente à pia e vomitei.
O som era cru.
Violento.
Piche preto derramava da minha boca em ondas, grudento e fervendo enquanto se agarrava à porcelana e ao metal. Sibilava como algo vivo, como se não quisesse estar fora de mim. Meu estômago se convulsionou novamente, uma nova torrente de escuridão atingindo a bacia com um espirro espesso e nauseante.
> “Você está me rejeitando,” o Fluxo sussurrou, suave e presunçoso. “Mas eu já te reescrevi.”
“Cale a boca,” eu resmunguei, passando as costas da mão pela boca.
Eu me afastei da pia, respiração falhando, fúria entrelaçada com vergonha.
E então—
O silêncio se quebrou.
Eu ouvi.
Passos.
Leves. Pequenos.
Não—
Eu empurrei a porta do banheiro, quase arrancando-a das dobradiças.
O quarto estava vazio.
A cama de Elliot estava desocupada, lençóis jogados ao lado em uma confusão de pequenos membros que deveriam estar lá.
A porta para o corredor estava escancarada.
Ele tinha ouvido e tinha fugido.