A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 259
Capítulo 259: Sem Piedade
Eve
Minha respiração parou.
Eu não conseguia desviar o olhar.
Eu não conseguia piscar.
Porque eu sabia que, se o fizesse, nunca seria capaz de fingir novamente. Nem mesmo por um segundo.
O sorriso dele não alcançou os olhos — mas não precisava.
A crueldade estava em sua voz agora. Lenta. Medida. Absoluta.
“Eu fiz os cálculos”, ele disse. “Considerando o gasto de recursos, a fadiga da guerra, taxas de atrito. Nós perdemos mais para alianças e revoltas de lobisomens do que para qualquer outra força externa nas últimas três décadas.”
Ele deu um passo à frente, e pareceu que a temperatura caiu.
“Eu não vou continuar negociando com parasitas. Eu não vou oferecer tratados de paz a vira-latas que entendem apenas sangue. Eu não vou desperdiçar mais um soldado, mais uma criança, mais um sopro, tentando criar espaço para a própria espécie que tentou apagar a minha desde o início.”
Eu balancei a cabeça. “Não… não, isso não é você—”
“Não se iluda, Eve”, ele estalou, olhos brilhando. “Esta é a única versão de mim que faz sentido.”
Ele me circulou lentamente, como um predador explicando à sua presa por que ela deve morrer.
“Quando a Lua de Sangue terminar, os fracos morrerão sozinhos. Mas os sobreviventes? Os alfas? Aqueles com magia ainda grudada aos ossos?”
Ele se inclinou mais perto, voz arrepiante.
“Eu os encontrarei. Eu os tirarei de suas tocas, de suas cavernas, de seus últimos redutos desesperados — e eu os queimarei. Eu colherei cada um da sua espécie até que não reste nada além de cinzas nos meus arquivos.”
Meu corpo inteiro tremia.
Não apenas de horror.
Mas de luto.
Um luto tão grande que nem parecia real. Era um vazio perverso sugando qualquer pequena esperança à qual eu queria me agarrar. Deixando-me em uma queda livre que terminaria em lugar nenhum além da minha aguardada destruição.
“Hades…”
Ele não hesitou. Ele não piscou. Ele não estava ouvindo.
Ele estava pregando.
“Você quer saber qual é a pior parte?” ele sussurrou, sua respiração fria contra minha pele. “Seu povo… sua espécie… teve a chance de evoluir. Foi oferecida misericórdia. Repetidas vezes. E todas as vezes, eles cuspiam nela. Então agora?”
Ele se endireitou, sua silhueta uma sombra irregular contra a luz estéril.
“Agora, eu dou a eles o que eles nos deram. Guerra. Abate. Extinção.”
Eu gemi. O som parecia estranho na minha garganta. Como se eu não fosse mais feita da mesma matéria que um dia o amou.
“Você está falando de genocídio”, eu sussurrei. “Você está falando de exterminação de uma raça inteira.”
“Eu estou falando de preservação”, ele corrigiu, calmo agora. Calmo demais. “Sem mais recrutamentos. Sem mais pactos forçados. Sem mais fingir que somos iguais em um mundo onde seu tipo sempre foi o veneno.”
Sua voz abaixou, baixa e fervendo.
“Você nasceu do sangue e da mentira. Você gerou motim e traição como se fosse escritura. E toda vez que um Lycan morria por uma causa de lobisomem, você devia chamar isso de equilíbrio.”
Ele deu mais um passo à frente.
“Esse equilíbrio termina comigo.”
Eu não conseguia falar.
Minha garganta era uma ferida aberta. Meu peito se recusava a subir. As lágrimas vieram, mas eram silenciosas agora — como se algo dentro de mim tivesse se quebrado muito profundamente para gritar.
“Você é uma das últimas”, ele acrescentou quase gentilmente. “Não é poético? A gêmea amaldiçoada… o monstro que eles tentaram prender… acaba sendo a última colheita.”
Ele se abaixou novamente, alinhou seus olhos com os meus.
“Seu sangue salvará meu tipo”, ele murmurou, voz envolta em finalidade. “E sua morte os vingará.”
Eu olhei para ele.
E pela primeira vez desde o início deste pesadelo, eu não vi Hades.
Eu nem vi o homem que eu odiava.
Eu não vi nada.
Um vazio com a forma de alguém que eu costumava amar.
Um deus na pele de um homem, movido pela perda e envenenado pelo poder.
Eu senti as últimas partes de mim mesma colapsando para dentro. A garota que o amou. A garota que esperava.
Acabada.
Cinzas.
Eu sussurrei, quase inaudível:
“Você estava tentando terminar o que eles começaram.”
Seus olhos encontraram os meus — planos. Frios.
“Não”, ele disse.
“Eu estou tentando terminar o que eu comecei.”
Ele respirou.
E por um segundo — apenas um segundo — eu vi isso.
Um pequeno lampejo.
O menor tremor no vazio impiedoso de sua expressão.
“Se as coisas tivessem sido diferentes”, ele murmurou, voz arranhando algo frágil em sua garganta, “eu ia fazer de você minha rainha.”
Seu olhar não suavizou — mas se fraturou.
Dor, sofrimento, desilusão que poderia ter espelhado a minha.
“Eu pensei… se eu te fizesse Luna… eu teria controle sobre o caos. Eu possuiria isso. Eu possuiria você.”
Ele olhou para longe, sua mandíbula tão cerrada que eu podia ouvir seus dentes rangerem.
“Eu ia te amar abertamente. Proteger você. Fingir que tudo era destino. Porque se eu te fizesse minha, seria mais fácil ignorar a verdade sobre o que você era. Sobre o que você tinha feito. Sobre o que você tinha se tornado.”
Minha respiração prendeu. Minha garganta apertou.
“Mas esse luxo”, ele disse, o brilho em seus olhos já morrendo, “foi enterrado no momento em que eu descobri a verdade. O cartão de memória. Os resultados de laboratório. O massacre. As mentiras.”
Ele olhou para mim novamente.
A rachadura havia sumido.
Só resta pedra.
“Você não é minha Luna, Eve. Você nem mesmo é mais uma mulher. Você é uma arma. Uma que eu vou usar até a última gota.”
A decadência em sua voz se intensificou — como se algo dentro dele tivesse se desatado. Eu senti isso no ar. No tremor sob minha pele. O fluxo estava remexendo. Rastejando. Invadindo.
“Você será extraída em intervalos. Sem sedação. Sem alívio. Você lutará na linha de frente como meu estandarte maldito até a lua de sangue subir — daqui a dezoito meses.”
Eu engasguei. “Você não pode—”
“Eu posso”, ele rosnou, baixo e escuro. “E eu vou. Depois disso?”
Ele sorriu novamente. O mesmo sorriso quebrado e vazio que fez meu estômago revirar.
“Você verá sua espécie queimar. Cada último. Sem tribunais. Sem diplomacia. Sem piedade. Apenas fogo.”
Minha alma gritou.
Mas meu corpo — acorrentado, entorpecido — não conseguia acompanhar.
Eu queria morrer. Acabar com tudo