A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 118
118: Maldito 118: Maldito Eve
“Era Eve!” Eu gritei, me afastando dele. “Foi ela que fez isso comigo!” A bile queimou a parte de trás da minha garganta, lágrimas pinicando meus olhos enquanto eu me preparava para as coisas horríveis que eu ia dizer… contra mim mesma.
Eu me envolvi com meus braços, lutando contra o frio do auto-ódio. “Ela me amaldiçoou—amaldiçoou todos nós!”
Hades se imobilizou, seu olhar se afiando com interesse predatório enquanto eu desmoronava. “O que você disse?” ele exigiu, sua voz baixa, perigosa.
Inspirei fundo, um suspiro interrompido, lágrimas pinicando meus olhos enquanto eu me forçava a continuar, cada palavra cortando mais fundo no meu próprio coração. “Ela me amaldiçoou bem antes de morrer—bem antes de executarem ela. Ela gritou para todos ouvirem. Eles acharam que ela estava louca, mas não estava. Ela era vingativa.” Eu levantei meu olhar para o dele, minha expressão tremendo e vazia. “E a maldição criou raiz. Tudo foi para o inferno depois disso.”
O olhar de Hades perfurava dentro de mim, procurando por falhas na minha história. Continuei, a desesperação me agarrando enquanto eu tecia a teia mais apertada.
“Depois que ela morreu, a alcateia desmoronou. No início, ninguém queria acreditar que era por causa dela. Mas eu sabia. Eu sentia.” Minha voz falhou, minhas mãos tremendo enquanto eu apertava mais meus braços. “A ameaça de guerra se agravava. Sua alcateia, a Alcateia Obsidiana começou a nos dilacerar, pressionando-nos a cada mês que passava. Não conseguíamos revidar. Não podíamos!”
Hades inclinou a cabeça, sua suspeita misturada com um lampejo de interesse. “Por quê?”
“A economia desmoronou,” eu sussurrei. “Nossas rotas de comércio falharam, e nossos embaixadores ficaram gananciosos. Havia tanta corrupção. Você viu as favelas. Era como se a própria alcateia tivesse virado as costas para si mesma. A maldição estava em toda parte, como podridão se espalhando por tudo que tocávamos.”
Minha voz tremeu enquanto eu lutava através das memórias que eu torcia em uma mentira crível. “E eu…” Eu ri amargamente, o som vazio. “Eu também não fui poupada. Eu perdi tudo. O homem que eu amava—ele foi arrancado de mim. Por causa dela. Fui forçada a me casar com você.” Eu cuspi as últimas palavras como se tivessem gosto de cinzas, embora meus olhos traíssem o luto que eu não conseguia fingir completamente. “Com o rei da própria alcateia que destruía a minha. É a maldição, Hades. A maldição que ela deixou para trás—e eu carreguei comigo desde então.”
Um silêncio pesado como pedra caiu entre nós. Hades me observou, seus olhos escuros brilhando de pensamentos, sua expressão ilegível. “Então o que você está dizendo,” ele começou devagar, sua voz suave e perigosa, “é que você acredita que trouxe a maldição consigo… para mim.”
Eu congelei, meu coração pulando uma batida. Esta era a beira do penhasco, o momento em que a mentira poderia se despedaçar ou se consolidar.
“Você não sabe o que está fazendo comigo,” eu ecoei suas palavras de volta para ele. “Você disse isso quando as veias negras torceram pelo seu corpo e te transformaram em algo errado. Algo amaldiçoado.”
Engoli em seco, baixando meu olhar como se envergonhada. “Sim,” eu sussurrei, minha voz mal audível. “Então eu… eu acho que fiz. Eu acho que trouxe para você. Eu não quis. Mas cada passo que eu dou parece deixar ruína para trás. Eu não sei como parar.”
Hades se moveu então, súbito e rápido, e eu me encolhi enquanto seus dedos pegavam meu queixo, me forçando a olhar dentro do seu olhar ardente. Seus olhos queimavam de fúria, mas mais profundo do que isso, algo mais escuro—algo quase vulnerável.
“Você acha que fez isso comigo,” ele disse, seu tom na lâmina de uma navalha. “Você acha que a sua maldição me tocou?”
Lágrimas surgiram em meus olhos enquanto eu assentia, minha voz tremendo. “Você estava bem antes de eu chegar. Não estava? Antes de mim, você era forte, intocável. Mas agora…” Minha garganta apertou enquanto eu pensava em suas transformações violentas, as veias negras se espalhando como fissuras em seu corpo. “Agora você está sofrendo. Você está se quebrando, como tudo mais ao meu redor. Como eu me quebrei. É ela. É a maldição que ela deixou para trás.”
Hades me encarou, sua expressão uma tempestade de raiva e incerteza. Seus dedos afrouxaram no meu queixo, deslizando para o lado do meu rosto, o toque tão irritantemente carinhoso quanto era possessivo.
“É isso o que você acha?” ele sussurrou, sua voz um rosnado baixo. “Que você me arruinou?”
Eu engoli em seco, as lágrimas finalmente escorrendo por minhas bochechas. “Eu não quero acreditar nisso. Mas é a única coisa que faz sentido. Eu pensei que podia fugir dela, do que ela fez comigo. Mas maldições não morrem com os mortos, Hades. Elas se agarram aos vivos.”
Seu polegar enxugou uma lágrima, seu toque quase gentil, e por um momento, eu achei ter visto as fissuras nele. A besta que me atormentava agora me olhava com algo cru, algo que eu não queria nomear.
“Você achou que você era quem estava me machucando?” Ele perguntou.
Eu assenti fracamente.
Hades me encarou pelo que pareceu uma eternidade, seu olhar escuro implacável, como se estivesse descascando cada camada da minha alma para encontrar a verdade. Então, abruptamente, ele riu—um som profundo e cortante que enviou arrepios rastejando sobre minha pele.
“Isso,” ele disse, sua voz pingando de diversão, “é ridículo, Vermelho.”
Meu coração tropeçou, e minha respiração parou enquanto eu o observava. Ele se inclinou mais perto, suas mãos deslizando do meu rosto para meu queixo, seu aperto enganosamente suave enquanto seus olhos brilhavam com uma mistura de diversão e condescendência.
“Você realmente acredita nisso?” ele continuou, seus lábios se curvando em um sorriso irônico. “Você, trazendo ruína para mim? Você, me amaldiçoando? Você está tão por fora, querida.” O polegar de Hades permaneceu em minha bochecha, seu toque desarmadoramente gentil, apesar da aspereza de suas palavras. “Você está tão por fora, querida,” ele murmurou, balançando a cabeça com uma descrença fingida. “Você realmente acha que essa bobagem de maldição tem algum peso?”
Abri minha boca para falar, mas ele me interrompeu com uma risada—suave, quase zombando—como se a própria ideia o divertisse até não poder mais. “Você?” ele repetiu, sua voz descendo para algo muito mais suave, quase sedutor. “A tempestade que me levou a cair de joelhos?” Ele se inclinou mais perto, seus lábios pairando a poucos centímetros dos meus, seu olhar escuro ainda preso em mim. “Querida, eu lutei guerras, matei reis, e domei feras muito piores do que maldições sussurradas por garotas mortas.”
Meus lábios tremeram, mas antes que eu pudesse dizer algo, ele enxugou uma lágrima solitária do meu rosto com sua junta, o movimento cuidadoso, como se temesse que eu pudesse quebrar. “Vermelho, escute-me,” ele disse baixinho, sua voz perdendo aquela ponta de escárnio, substituída por algo mais quieto. Algo quase simpático. “Eu não sei que histórias distorcidas você convenceu a si mesma, mas isso… essa maldição que você carrega como uma cruz? Não é real.”
“Você não entende,” eu sussurrei, forçando minha voz a quebrar, esperando que ele ouvisse a crueza como sinceridade. “É por isso que eu não te contei. É por isso que eu não podia te contar. Você acha que eu sou louca—”
“Você não é louca,” Hades interrompeu, sua voz agora gentil, um contraste marcante para a tempestade que rugia nele momentos atrás. Seu aperto em meu queixo suavizou, seu polegar traçando um caminho ocioso na minha pele como se para me acalmar. “Você está cansada. Você está sofrendo. E você é teimosa demais para deixar alguém compartilhar o peso com você.”
Suas palavras atingiram em algum lugar profundo, onde minhas mentiras se misturavam facilmente com verdades que eu não queria confrontar. Eu me afastei um pouco, me envolvendo novamente com meus braços enquanto olhava para ele, a frustração gravada em minhas feições.
“Você acha que eu sou louca,” eu murmurei, minha voz tremendo de esforço. “Você só está me dando corda. Você acha que eu estou me agarrando a fantasmas, mas você não sabe o que eu vi. O que eu vivi.”
Hades arqueou uma sobrancelha, claramente entretido, mas desta vez ele não me interrompeu. “Eu vi o que aconteceu depois que ela morreu,” insisti, elevando minha voz. “Eu vi tudo desmoronar—tudo. E você acha que é uma coincidência? Que a guerra chegou? Que a ruína seguiu? Você não estava lá, Hades.” Eu apontei um dedo para o peito dele, minha raiva alimentada pelo desespero. “Você não viu desenrolar pedaço por pedaço enquanto todos que você amava se voltavam contra você. Você não perdeu tudo por causa dela.”
Por um momento, pensei ter visto algo cintilar em seus olhos—um leve amolecimento, como se minhas palavras mexessem com algo que ele não esperava.
“Eu sei como são as maldições,” disse eu, mais baixo agora, lutando para manter minha posição. “Eu vivi com uma. E eu não me importo se você acredita em mim. É real.”
Hades exalou um longo suspiro, me observando como se estivesse encarando um enigma que não conseguia resolver. Então, para minha surpresa, ele sorriu—não seu habitual e afiado sorriso zombeteiro, mas algo mais suave. Quase… carinhoso. Seus covinhas surgiram através de mim como garotinhos travessos.
“Você realmente é outra coisa, Vermelho,” ele murmurou. “Toda fogo e fúria, mesmo quando está se afogando.”
“Eu não estou me afogando,” respondi rapidamente, embora a rachadura em minha voz me traísse.
Ele inclinou a cabeça, seu olhar nunca deixando o meu. “Não está?”
Abri minha boca para discutir novamente, mas as mãos dele encontraram meus ombros, seu toque me aterrando apesar de mim mesmo. “Você está certa sobre uma coisa,” ele disse, sua voz baixa, estável. “Eu não estava lá. Não vi o que você viu. E talvez você tenha razão—talvez haja mais nisso do que eu entendo. Mas maldições ou não…” Ele se inclinou um pouco, seus olhos escuros e implacáveis, “Eu não acredito que você traga ruína. E você não tem que carregar isso sozinha.”
Pisquei para cima dele, surpresa com a súbita suavidade em seu tom, pelo modo como as palavras dele pareciam deslizar através das minhas paredes cuidadosamente construídas como rachaduras em uma barragem. Não. Não deixe ele chegar até você.
“Você não entende,” sussurrei novamente, balançando a cabeça. “Eu trago ruína. E se você não consegue ver isso, então é você quem está se enganando.”
O polegar de Hades acariciou minha mandíbula uma última vez antes de se afastar um pouco, sua expressão insondável. “E se eu estiver errado?” ele perguntou suavemente, quase como se me testasse.
Engoli em seco, o peso da minha mentira pressionando sobre mim como pedra. “Então você vai queimar como todos os outros.”
Ele ficou imóvel, me observando atentamente. Então, lentamente, seus lábios se curvaram em um leve e mordaz sorriso. “Oh, Vermelho,” ele murmurou, abaixando a cabeça, seu nariz roçando o meu. “Eu já queimo por você.”
Pisquei, um rubor subindo pelo meu pescoço, a inesperada intimidade me desequilibrando. Minha respiração falhou, o calor de suas palavras deslizando sobre minha pele como um fósforo riscado contra isca.
“Você—” comecei, mas minha voz vacilou, me traindo.
Hades inclinou a cabeça, seus lábios se curvando em um sorriso malicioso e consciente como se ele pudesse sentir o efeito que suas palavras tinham em mim. “Peguei você desprevenida, não foi?” ele murmurou, sua voz descendo para aquele tom baixo e perigoso que fazia meu pulso acelerar. “Não fique tão chocada, querida. Você afirma trazer ruína, mas tudo o que está fazendo é me incendiar.”
Empurrei seu peito instintivamente, tentando colocar distância entre nós. “Pare,” eu murmurei, o calor em meu rosto apenas se intensificando enquanto eu o encarava. “Você está apenas tentando me distrair.”
“E está funcionando,” ele disse suavemente, suas covinhas fazendo outra aparição—travessura e escuridão personificadas.
Cerrei meu maxilar, odiando a maneira com que suas palavras me enfureciam e me desequilibravam. “Você é impossível,” resmunguei, virando meu rosto para o lado. “Você acha que isso é uma piada, mas não é. Eu estou tentando te avisar—”
“Me avisar?” ele interrompeu, diversão colorindo sua voz. “Vermelho, você passou todo esse tempo convencendo a si mesma que está amaldiçoada, e agora acha que é minha salvadora?” Ele se inclinou novamente, seus lábios próximos ao meu ouvido, sua voz um sussurro escuro. “Me diga, querida—se você é tão perigosa quanto afirma ser, por que eu quero fazer tudo, exceto fugir de você?”
Meu coração deu um salto. “Eve é—”
“Está no inferno que merece estar.”
Suas palavras me atingiram como um golpe no peito. No inferno que merece estar.
Por um momento, o mundo inclinou, e a respiração que eu segurava se tornou irregular em meu peito. E como se cada tijolo cuidadosamente colocado da minha fachada rachasse e se despedaçasse sob o peso de suas palavras. Ele não sabia. Não podia saber. E ainda assim, parecia como se ele tivesse chegado dentro de mim e rasgado algo cru e sangrando diretamente para a superfície.
“Eu…” Minha voz vacilou, se quebrando de um jeito que eu não conseguia controlar.
Hades ficou imóvel, seu olhar escuro se aguçando enquanto ele me estudava, sentindo a mudança mesmo que não pudesse nomeá-la. “O que há de errado, Vermelho? Não me diga que você sente pena dela.” Seu tom era zombeteiro, leve com diversão, mas havia uma advertência por baixo, um aviso para não me aproximar muito.
Apertei meus punhos ao lado do meu corpo, forçando-me a respirar através da tempestade rugindo dentro de mim. Sentir pena dela? Se ao menos ele soubesse. Se ao menos ele entendesse que a garota que ele condenava tão facilmente estava bem na frente dele, usando o rosto de outra pessoa. Que eu era tanto a vilã quanto a vítima dessa história, e cada mentira que eu contava era um nó apertando ao redor do meu pescoço.
“Eu não tenho pena dela,” disse eu roucamente, minha voz tremendo. “Eu odeio ela. Eu odeio tudo o que ela fez comigo.”
As palavras tinham gosto de cinza, amargas e cortantes na minha língua, porque eram destinadas a mim. Eu te odeio, Eve.
O olhar de Hades endureceu levemente. Ele inclinou a cabeça um pouco, a diversão se dissipando, substituída por algo mais calculista. “O ódio é bom,” ele murmurou, sua voz perigosamente suave. “O ódio vai manter você viva. Mas não deixe que o consuma, Vermelho. Ela se foi. Morta. E qualquer maldição que você acha que deixou para trás—” Ele deu um passo mais perto, sua presença sufocante, sua mão alcançando para acariciar minha bochecha novamente. “—você é mais forte que o fantasma dela.”
Seu toque queimou através de mim, uma cruel justaposição de ternura e finalidade. Mais forte que o fantasma dela? Eu era o fantasma. Eu era a maldição. E agora aqui estava ele, acalmando as feridas que eu tinha aberto, sem saber que a lâmina ainda estava dentro de mim.