A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 111
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111: Confie em Ninguém 111: Confie em Ninguém Eve
Kael quase lançava um olhar furioso a Jules enquanto ela saía do quarto. Ele fechou a porta atrás dela, e eu observei enquanto um pouco da tensão que havia contraído seus ombros se aliviava. Ele suspirou profundamente, como se estivesse se preparando para fazer algo que o deixasse nervoso.
“Kael?” chamei cautelosamente, preocupação roendo meu estômago. “Você disse que queria falar comigo?”
Quando seus olhos encontraram os meus, suas sobrancelhas estavam franzidas. Ele parecia dividido, como se tentasse tomar uma decisão sobre algo que me preocupava. Seus olhos se voltaram para a tipoia no meu braço, e seus verdes floresta se transformaram em um verde-azulado escuro.
Ele caminhou em minha direção até estarmos a poucos metros de distância. “Ellen…” Sua voz era áspera. “Como você está?”
Na primeira pergunta, um pouco de alívio penetrou em meu sistema. Consegui um sorriso irônico. “Estou tão bem quanto é possível,” respondi.
O canto de sua boca se ergueu levemente. “Seu braço?” ele perguntou.
“Está um pouco desconfortável, mas o médico diz que estarei melhor em algumas semanas.” Tentei assegurá-lo.
Ele olhou para porta antes de voltar a me encarar. Ele fechou as mãos em punhos e as abriu novamente. “Jules fez isso com você.”
Não era uma pergunta; era uma afirmação. “Foi um erro.”
“Será?” ele respondeu secamente, mal me deixando terminar de falar. “Foi mesmo?”
Agora era minha vez de estar confusa. Franzi a testa, uma pergunta em meu olhar enquanto olhava para ele. “O que mais poderia ter sido?”
“O que exatamente você sabe sobre Jules?” ele perguntou, sua voz dura na menção de seu nome.
Eu ri nervosamente. “Ah, vamos lá, Kael,” tentei amenizar a tensão no ar. Ele provavelmente estava apenas nervoso por causa do meu braço. “Eu sei o suficiente e sei que a Torre é minuciosa. Vocês não teriam deixado passar nada em sua avaliação. Hades não a teria designado para mim se não tivesse certeza de que poderia ser confiável.”
Seu rosto se contorceu em uma expressão que era dolorosamente familiar—culpa. Eu havia visto a mesma expressão em Hades.
Desta vez, a inquietude não meramente roía o meu estômago; torcia-o. “Há algo errado? Há algo que eu não sei?”
A garganta de Kael saltou. “Você confia nela?” ele perguntou, sua voz pequena.
“Sim,” respondi sem hesitar. Mas evidentemente não o suficiente, pois eu não havia confiado a ela meu maior segredo. Seu rosto magoado ainda me assombrava, e sua voz fria ainda me sufocava.
“Não deveria,” disse Kael secamente. “Não confie em ninguém,” ele murmurou. “Não confie absolutamente em ninguém.”
Pisquei para ele. Não sabia o que me surpreendia mais—o tom áspero de sua voz que eu nunca havia ouvido antes ou suas palavras.
“Há algo errado?”
Ele olhou para o meu braço. “As pessoas são como vidro,” ele murmurou, sua voz mal acima de um sussurro. “Frágeis, fáceis de quebrar… e às vezes, o que está sob a superfície é mais afiado do que você espera.” Seu olhar cintilou para o meu, pesado com significado não dito.
Franzi a testa, meu coração batendo um pouco mais rápido. “Kael, você está me assustando. O que está tentando dizer?”
Ele exalou bruscamente, passando a mão pelos cabelos claros, a tensão em sua estrutura se tornando mais rígida. “O que estou tentando dizer, Ellen, é que confiança é um luxo perigoso. Até os mais próximos a você podem ser os que cortam mais fundo.”
Avancei um passo, meu braço machucado latejando fracamente, embora eu ignorasse. “Você está insinuando algo sobre Jules? O que ela fez?”
Kael hesitou, seus olhos verde-floresta tempestuosos, o verde-azulado ainda persistindo na profundidade. “Não é apenas sobre o que ela fez. É sobre quem ela é.”
“Quem ela é?” Minha voz estava baixa, cautelosa. “Kael, se tem algo que eu preciso saber, me fale. Pare de falar em charadas.”
Sua mandíbula se contraiu, os músculos trabalhando como se ele mastigasse suas palavras. Finalmente, ele falou, seu tom resoluto mas dolorido. “Jules não é apenas uma vira-lata que Hades decidiu acolher. Ela é um lembrete—um vestígio andante do passado que todos tentamos enterrar. E a coisa sobre o passado, Ellen, é que ele nunca permanece enterrado por muito tempo.”
Um frio rastejou pela minha espinha. “O que você está dizendo? Que ela é perigosa?”
“Ela é mais do que perigosa,” Kael respondeu, sua voz cortando o ar como uma lâmina. “Ela é uma bomba relógio. E se você não tiver cuidado, ela vai te levar junto com ela.”
Recuei, minha respiração presa. “Mas ela—ela foi nada além de amável. Ela me protegeu, Kael! Como alguém assim poderia ser uma ameaça?”
Kael diminuiu a distância entre nós, seu olhar penetrante. “Porque lealdade não apaga o que está dentro, Ellen. Não muda do que ela é capaz ou das cicatrizes que carrega. As mesmas cicatrizes que um dia podem transformá-la em sua maior inimiga.”
Sacudi a cabeça, recusando-me a acreditar. “Não. Isso não é verdade. Jules não é assim.” Mas uma parte de mim, para meu horror, concordava.
“Talvez não agora,” ele admitiu, sua voz amolecendo, embora seus olhos permanecessem duros. “Mas as pessoas mudam. E você—” Ele apontou para o meu braço. “Você já é prova de quão rapidamente as coisas podem sair do controle.”
Olhei para ele, o peso de suas palavras afundando como chumbo em meu peito. “Então por que Hades não me avisou? Por que ninguém disse nada?”
Kael riu amargamente. “Porque Hades pensa que pode controlá-la. Que ele pode mantê-la presa. Mas você e eu sabemos o que acontece quando alguém é levado ao limite, não é?”
Olhei para ele, perdida, meus pensamentos emaranhados. “O que faço agora?”
E pela primeira vez desde que entrou pela porta, um sorriso genuíno se formou em seu rosto. “Confie nos seus instintos,” ele murmurou. “Não vá contra eles na tentativa de satisfazer seu senso de lealdade ou justiça. Instintos não mentem. São primários e crús, e geralmente são a única coisa que te mantém vivo quando tudo o mais desmorona.”
Engoli em seco, minha língua ficando mais pesada na boca. “Você acha que ela vai me machucar? Ou a si mesma?”
A expressão de Kael se suavizou. “Eu não acho que ela sabe o estrago que é capaz de causar. Mas isso não a torna menos perigosa. Se alguma coisa, a torna ainda mais.”