A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 110
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110: Interceptado 110: Interceptado Eve
Ficamos assim por um momento, deixando o luto se assentar. Tentei manter meus olhos secos e reunir meus pensamentos. Manter uma fachada corajosa e alegre depois de tudo pelo que ela passou parecia uma traição à profundidade de sua dor, então me permiti chorar com ela. Lamentando não apenas os anos de sofrimento que ela suportou, mas a inocência roubada dela, o amor que lhe foi negado e a liberdade que sempre pareceu estar um pouco fora de alcance.
Finalmente, Jules recuou um pouco, enxugando o rosto com as mãos trêmulas. Suas bochechas estavam manchadas de lágrimas.
“Obrigada,” ela sussurrou, sua voz crua e rouca. “Por escutar, por… não ter pena de mim. Eu odeio pena. Faz com que eu me sinta pequena.”
Eu balancei a cabeça firmemente, encontrando os olhos dela. “Você não é pequena, Jules. Você é monumental.”
Ela deu um sorriso aquoso, o menor indício de cor voltando às suas bochechas sardentas. “Eu não me sinto extraordinária.”
“Você é,” eu murmurei, minha voz perdendo um pouco do seu entusiasmo. Você não é como eu, disse em minha cabeça.
“Obrigada por compartilhar um pouco do peso para mim,” ela murmurou, “mas eu sei que não sou a única que precisa de ajuda com o fardo que o passado deixou sobre eles.”
Eu fiquei imóvel, minha garganta trabalhando com um engolir. Eu hesitei.
“Você não precisa ter medo, eu prometo. Não importa quão pequenas ou grandes suas cicatrizes possam ser, eu quero diminuir o peso delas, e vai ficar entre nós.” Ela entrelaçou seus dedos nos meus. “Eu sou sua amiga, e estarei ao seu lado, não importa o quê.” Sua voz era suave mas firme, um tranquilo conforto que afundou profundo no meu peito.
Eu olhei para nossas mãos entrelaçadas. Sua pegada estava firme apesar do tremor nos dedos. Era difícil acreditar que alguém que suportou tanto ainda pudesse oferecer consolo tão livremente.
Eu lutei com o impulso de me afastar, de enterrar minha própria dor e verdade como deveria. No entanto, a sinceridade nos olhos de Jules me desarmou.
“Você não tem que dizer nada se não estiver pronta,” Jules acrescentou, seu tom suave. “Eu só… quero que você saiba que não tem que carregar isso sozinha. Não comigo.” Sua expressão era sincera enquanto ela olhava nos meus olhos.
O nó em minha garganta endureceu, e meu pulso martelou em meus ouvidos. O olhar sincero de Jules atravessou através de mim, despojando as camadas de defesa que eu meticulosamente construí ao longo das semanas que estive aqui. O calor da mão dela na minha era reconfortante, mas também acendeu um pânico profundo em mim, um lampejo de medo que, se eu a deixasse entrar, tudo desmoronaria.
Ela não estava olhando para Eve, o fantasma se apegando à vida nas sombras. Ela estava olhando para Ellen, a fachada que eu tinha construído, a mentira que me mantinha segura. Se eu contasse a verdade, as paredes desse mundo frágil que eu construí desmoronariam, me deixando exposta.
“Eu…” Minha voz falhou, e eu engoli em seco, me forçando a encontrar o olhar dela. As palavras pairavam na beira da minha língua, ameaçando transbordar. *Diga a ela. Diga quem você é. Diga por que você está aqui.* Mas o peso das consequências me pressionou, sufocante. E se a verdade chegasse a Hades? Eu olhei ao redor das bordas do quarto, procurando pelas câmeras que eu sabia estarem ocultas. Isso apenas serviu para tornar o quarto mais desconcertante. Ao menos as que nos corredores estavam à vista.
Eu poderia sussurrar. Lancei um olhar inquieto para ela, suor formando na minha testa, a verdade revolucionária na ponta da minha língua.
Eu deveria estar morta. Eu sou Eve Valmont.
A pegada de Jules na minha mão se apertou, sua expressão suavizando com preocupação. “Tudo bem,” ela disse gentilmente. “Você não precisa se esforçar. Seja lá o que for, quando você estiver pronta… Eu estou aqui.”
Poderia ter sido um truque da luz, mas o olho dela tremeu. Eu pisquei, balançando nervosamente a cabeça.
Eu estava perdendo o controle. Meu peito se apertou enquanto eu tentava recuperar a minha compostura. Eu tinha enterrado Eve naquele dia, ou assim pensei. Mas estando aqui, com Jules oferecendo seu firme apoio, eu sentia Eve se agitando dentro de mim, implorando para ser reconhecida.
“Eu gostaria de poder,” eu sussurrei, as palavras escapando antes que eu pudesse contê-las. Minha mão tremeu na dela, mas eu não me afastei. “Eu gostaria de poder contar tudo para você.”
“Então por que você não conta?” ela perguntou suavemente, sua voz impregnada de cuidado e uma ponta que me fez sentir ainda mais culpada. Ela havia exposto suas mais profundas e obscuras feridas para mim, mas eu nem ao menos podia deixá-la ver um pedaço das minhas. Havia demais em jogo. Minha mente foi para a bomba que Hades tentou me fazer ativar no meio de uma praça da cidade porque eu o havia desafiado. Lembrar ainda fazia um calafrio correr pelos meus ossos. Quantas mais dessas ele teria plantado por todo Silverpine? Quantos segundos levaria para ele detonar todas elas? Matando milhares quando descobrisse que havia sido enganado. Mesmo que houvesse a mais leve chance da profecia ser uma mentira, por que ele me ouviria?
Eu forcei um sorriso fraco, balançando a cabeça. “Algumas verdades são mais pesadas que outras, Jules. E essa… é só minha para carregar.”
Suas sobrancelhas se uniram. “Você está dizendo que seu passado é mais pesado que o meu?” O tom foi revestido com ácido que me pegou de surpresa.
Meu coração deu um salto, e eu rapidamente balancei a cabeça. “Não, Jules, não foi isso que eu quis dizer.” Minha voz estava rouca, defensiva, como se eu tivesse sido pega em uma mentira. Porque eu tinha, de certa forma. “Não é uma comparação. Eu não estou tentando menosprezar o que você passou.”
O olhar dela se estreitou, procurando por fissuras na minha compostura. “Então o que você está tentando dizer?” ela pressionou, sua voz tremendo com frustração. “Porque para mim, parece que você está escondendo algo e talvez seja porque você não confia o suficiente em mim para compartilhar.”
A acusação doeu, e eu estremeci, culpa se acumulando no fundo do meu estômago. “Não é sobre confiança,” eu disse suavemente, apesar das palavras soarem vazias. “É sobre segurança. A sua tanto quanto a minha.” E a segurança de Silverpine.
A pegada de Jules na minha mão se afrouxou, e ela se recostou um pouco, sua expressão nublada com confusão e mágoa. “Segurança?” ela ecoou. “Ellen, do que você está falando?”
O peso do nome dela em seus lábios, o nome que não era meu, era sufocante. Eu não conseguia olhar em seus olhos, então encarei nossas mãos ao invés disso, o modo como as dela tremiam um pouco nas minhas. *Você vai perder a confiança dela completamente,* uma voz na minha cabeça alertou. *Mas se você contar a verdade, você vai perder tudo.*
“Eu não posso explicar,” eu murmurei, mal audível. “Não agora. Não ainda.”
Jules soltou um suspiro trêmulo, puxando sua mão livre da minha. A ausência do toque dela foi como um súbito frio no ar. “Você está escondendo algo grande,” ela disse, sua voz tensa. “E eu não vou te forçar a contar. Mas não fique aqui fingindo que está me protegendo ao me deixar no escuro. Você está me machucando.”
Eu abri a boca para responder, mas nenhuma palavra saiu. Como eu poderia explicar que minha vida e a vida de incontáveis outros poderiam ser destruídas se mesmo um sussurro da verdade chegasse aos ouvidos errados? Como eu poderia dizer a ela que Ellen era apenas uma máscara, e que por baixo dela havia uma mulher que havia morrido e ressuscitado na sombra de uma cela suja há apenas dois meses?
Jules se levantou e fechou seu uniforme, esfregando as mãos em suas calças como se precisasse sacudir o peso da conversa. “Eu confiei em você com tudo, Ellen. Eu pensei que você poderia fazer o mesmo.” Sua voz rachou, mas ela não deixou as lágrimas caírem. “Eu acho que estava enganada.”
Eu me levantei também, pânico raspando na minha garganta. “Jules, por favor—”
“Não,” ela interrompeu, levantando uma mão. “Eu preciso de um pouco de ar.”
Meu coração encolheu e virou pó diante de sua frieza. Seus ombros estavam curvados, seus olhos pesados. Desta vez, eu não tinha sido traída, eu tinha sido a traidora. Eu apertei minhas mãos em punhos, cerrando os dentes enquanto ela caminhava para o meu banheiro para prepará-lo.
Mas meu desespero venceu. Eu estendi a mão e segurei o braço dela, minha mente girando com a decisão crucial que eu tinha que tomar. “Eu vou contar. Eu vou lhe contar toda a verdade,” eu disparei.
Ela se virou para mim, seus olhos vazios iluminando levemente. “Você tem certeza?”
Eu engoli em seco e assenti, meu sangue rugindo nos meus ouvidos. “Sim, eu tenho. Eu—”
De repente, a porta se abriu, e o cheiro de menta e brisa do mar me alcançou antes que olhos verdes penetrantes encontrassem os meus.
“Kael?” Eu lhe ofereci um sorriso genuíno, mas hesitante. “Bom dia.”
“Bom dia, Sua Alteza. Eu gostaria de ter uma palavra com você,” ele disse, sua voz calma, mas carregando um átomo de autoridade.
Seus olhos mudaram de mim para Jules, e um tom duro entrou em sua voz. “Sozinho.”