447: GIA 447: GIA Por um longo momento, Geórgia não disse nada, estudando-o com aquele mesmo olhar implacável. Quando ela finalmente falou novamente, sua voz estava tingida de algo mais cortante. “Onde você esteve todo esse tempo? Por que não esteve aqui conosco?”

A respiração de George prendeu novamente em sua garganta. Ele esperava perguntas, mas não do tipo que cortava tão profundamente. Ele tentou encontrar as palavras certas, mas cada uma parecia muito frágil, muito inadequada para a maturidade e o nível de inteligência que Geórgia estava mostrando.

“Eu… eu não sabia, Geórgia,” ele começou devagar em uma voz rouca de emoção. “Eu não sabia que você existia. Se eu soubesse… se tivesse sabido, teria estado aqui mais cedo. Eu prometo isso.”

Geórgia parecia não convencida, seus braços ainda firmemente cruzados sobre o peito. “É isso que os adultos sempre dizem. Mas isso não muda nada, não é?” Ela virou o olhar para sua mãe, sua expressão quase desafiadora. “Por que eu tenho que encontrá-lo agora?”

Ariel conseguiu ouvir a pergunta não dita em suas palavras. Em outras palavras, Geórgia queria saber por que ela escolheu parar de mentir para ela de repente.

Ariel se ajoelhou ao lado dela, segurando seu pequeno rosto com as mãos. “Porque eu nunca o vi por anos e pensei…” ela interrompeu, pois não poderia complicar as coisas contando mais mentiras.

“Ele é seu pai, amor,” ela disse, evitando inteligentemente chamá-la de ‘Gigi’ depois do confronto que ela deu a George. “E ele quer te conhecer. Eu sei que é confuso e talvez até assustador por causa do que eu te disse antes, mas ele está aqui agora. Você pode tentar, por mim?”

Geórgia bufou um pouco, rolando os olhos como uma adolescente em vez de uma menina de sete anos. Mas após uma longa pausa, ela descruzou os braços e olhou de volta para George, um toque de curiosidade se misturando com sua frustração. “Tudo bem,” ela resmungou. “Mas não pense que eu vou gostar de você imediatamente.”

George soltou o fôlego que ele tinha que admitir que estava segurando o tempo todo e seus lábios se contorceram em um sorriso irônico ao dizer,
“Eu não esperaria que gostasse, Geórgia. Mas eu estou aqui agora, e eu vou consertar as coisas, minha Gia. Eu prometo. Me desculpe,” ele rapidamente acrescentou quando percebeu que tinha se deixado levar novamente.

Tudo o que ele recebeu foi um resmungo de Geórgia e após passar alguns minutos com eles, Ariel mais ou menos escapuliu sob o pretexto de deixá-los sozinhos para se conectarem.

Depois que Ariel saiu, um silêncio constrangedor se estabeleceu entre os dois, mas não por muito tempo, como se viu, eles tinham mais em comum do que a aparência… O que ambos mais odiavam era o silêncio.

Levou algum tempo, mas à medida que os minutos passavam, o frio inicial de Geórgia começou a derreter enquanto George a envolvia em uma pequena conversa começando pelo quebra-cabeça pela metade com que ela estava trabalhando.

Sua avó tinha sido de pouca ajuda e sua mãe era um caso perdido quando se tratava de coisas assim.

Ela sempre a mandava se concentrar em coisas mais femininas para a sua idade. Talvez não fosse tão ruim ter um pai, afinal de contas, mesmo que fosse um do país dos mortos… um pai era um pai.

Mas ela não planejava deixá-lo escapar tão facilmente enquanto o bombardeava com perguntas, algumas normais e outras surpreendentemente profundas para a sua idade.

Ela exigiu saber onde ele morava, o que ele fazia e por que ele pensava que podia simplesmente aparecer depois de todos esses anos.

Ele tinha uma namorada ou esposa? George, por outro lado, é claro, estava muito ansioso para atendê-la e respondia às suas perguntas com a maior honestidade possível, talvez ele pudesse conquistar uma lasca de sua confiança.

“Então qual é o seu plano em relação a minha mãe?” ela perguntou quando George confessou que estava solteiro.

George quase gritou ‘aleluia’ quando essa questão surgiu em sua conversa. Ele vinha pensando em como dizer à menina que queria fazer parte de suas vidas, então aproveitou a oportunidade.

“Meu plano não é apenas para sua mãe, mas para todos nós. Eu quero que sejamos uma família… vivermos juntos como uma grande família feliz… mas eu não sei se você e sua mãe querem isso?”

“Você é tão inseguro assim?”

“Estou cansada de as pessoas me chamarem de nomes porque eu não tenho um pai,” Geórgia continuou em um tom de agravamento que, claro, não durou muito, “então eu não vou deixar você sair tão facilmente.”

“Você esquivou-se de seus deveres por anos e é hora de começar a viver de acordo com suas responsabilidades na minha vida. Quanto à minha mãe, esse é o seu problema, mas vou ver o que posso fazer por vocês dois,” ela disse com desprezo.

Por um momento, enquanto George a fitava em admiração, ele teve que se convencer deliberadamente de que Ariel não poderia ter mentido sobre a idade dela… isso significaria que ela não era sua filha, certo?

Saindo de seu transe, ele rapidamente assentiu. “Muito obrigado, meu amor Gia, vou contar com seu apoio.”

“Está bem, mas você deveria parar de me chamar… disso.”

“Gia é um nome tão doce para um anjo inestimável como você. Você não vê que Gia resume tudo o que você é para mim. Não é apenas um apelido qualquer, mas para mim é um símbolo de quem você é e sempre será. “G” de Geórgia, “I” de Indomável e “A” de Anjo. Você é o meu anjo indomável… minha Gia.”

Geórgia considerou a analogia de seu pai seriamente por um tempo e então lentamente assentiu como se ela entendesse. “Eu acho que posso aceitar essa explicação, embora eu não esteja totalmente convencida ainda, afinal, você mal me conhece,” ela disse e George deu-lhe um de seus sorrisos charmosos que instantaneamente balançou a resolução de Geórgia. “Tudo bem, você pode me chamar de Gia,” ela concordou relutantemente.

“Oh… você é um amor e eu acho que já te amo,” George anunciou, dominado pela emoção.

Geórgia fez uma careta. “Você acha?”

“Não, eu não acho, eu te amo, amor.”

E devagar, quase imperceptivelmente, a expressão rígida de Geórgia começou a suavizar. Ela não sorriu ou riu, mas havia um brilho em seus olhos quando ela eventualmente se sentou ao lado dele e permitiu que George segurasse suas mãos, mesmo que ela fingisse que não se importava com isso.

O tempo passou e quando a mãe de Ariel espiou para verificar como estavam, ela viu Geórgia e George sentados lado a lado com Geórgia mostrando animadamente ao pai os livros que ela gostava enquanto George ouvia com interesse genuíno, fazendo perguntas que traziam um brilho de excitação aos olhos dela.

Ariel, que mais tarde se juntou à sua mãe na porta, também viu essa cena e enquanto assistia o desdobramento da cena, ela sentiu o nó apertado em seu peito se soltando lentamente.

Ela sempre soube que George tinha um jeito de encantar as pessoas, mas vê-lo se conectar tão rapidamente com sua filha de vontade forte era algo que ela não esperava, especialmente não no espaço de um único dia.

Ela não podia culpar Geórgia, no entanto; ela mesma tinha caído sob o feitiço daquele mesmo charme anos atrás e, apesar de todos os seus esforços para resistir, ela podia sentir-se sendo atraída novamente agora que ele estava de volta à sua vida.

“Coitadas de nós,” ela murmurou em voz baixa, sem se dar conta de que tinha falado em voz alta até que sua mãe se virou para ela com uma sobrancelha levantada.

“Você está decepcionada?” Marie perguntou.