A Garota Boa do Diabo - Capítulo 94
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94: Cobra 94: Cobra Como uma pessoa pode consolar outra, enquanto sabe que é ela quem mais a machuca?
Isso era um mistério que Fil não conseguia entender no início.
Conhecia Marianne desde antes de se formar na universidade. Desde então, eram boas amigas, vendo uma à outra conquistar seu espaço na vida. Conheciam todos os segredos uma da outra — grandes ou pequenos. Fil confiava em Marianne de todo coração e alma, sabendo que Marianne sempre estaria lá para ela como sua melhor amiga.
Entretanto, enquanto consolava Fil, abraçando-a de forma tão calorosa e gentil, Marianne estava segurando uma faca em suas costas. Não é à toa que as pessoas chamam isso de traição.
Se isso não é chamado de maldade, Fil não sabe o que chamar.
“Fil.” Marianne lentamente soltou Fil, acariciando a mão desta. “Sinto muito que isso tenha acontecido.”
“Por que você está pedindo desculpas? Não é como se você fosse o motivo do nosso término.”
“Eu sei, mas ainda assim sinto muito.”
Fil sorriu amargamente, enxugando as lágrimas. “Eu só queria desabafar. Estive agindo como se estivesse bem todo esse tempo, mas não estou.” Ela fungou, enxugando mais lágrimas enquanto não conseguia parar os olhos.
“Não estou bem. Dói.”
“Fil,” Marianne chamou, apertando a mão de Fil. “Não sei o que te dizer.”
“Está tudo bem. Tudo que eu quero é alguém que ouça. Não posso contar para os outros sobre isso.”
“Sou sua melhor amiga por um motivo.” Marianne assentiu, oferecendo garantia. “Você quer que eu converse com Vincent?”
“Pra quê?” Fil bufou. “Não é como se eu quisesse ele de volta.”
“Você não quer ele de volta?”
“Você sabe que eu só confio uma vez, Anne,” Fil ressaltou, lembrando a sua melhor amiga que ela só dá uma chance às pessoas. “Ou você quebra ou você valoriza. Isso é com você e com todos em quem confio. Mas é comigo decidir se quero que eles façam parte da minha vida de novo. Você me conhece.”
Marianne balançou a cabeça, incapaz de discordar de Fil. Apesar de Fil ser uma pessoa muito gentil, empática e ter uma paciência longa, ela ainda tinha algumas coisas inegociáveis que defendia. A primeira da lista era a confiança.
“O que Vincent está pensando?” Marianne suspirou pesadamente. “Ele deve ter perdido a cabeça.”
Fil deu de ombros enquanto sorria amargamente.
“Então… vocês não vão voltar?” Marianne perguntou, fazendo a orelha de Fil esquentar. “E se ele vier até você e pedir perdão?”
“Então ele deve estar pronto para pedir pelo resto da vida dele.”
“Não é um pouco demais?”
“Acusar-me de trair com o amigo dele… não é demais?”
“O quê?”
“Como você se sentiria se eu te acusasse de dormir com Vincent, Anne?” Fil continuou, desta vez de forma mais agressiva. “Você não se sentiria insultada? Irritada? Machucada? Mesmo que fosse verdade, ainda é humilhante.”
Por um momento, Marianne ficou sem palavras. Abria e fechava a boca como um peixe, pigarreando para se recuperar das últimas declarações de Fil.
“Ele pensou que eu estava encontrando o amigo dele às escondidas,” Fil se acalmou um pouco. “Não sei o que está errado com o Vincent, mas o que ele fez é simplesmente errado. Ele não gostaria se fosse eu quem tivesse feito o que ele fez.”
“Quem é esse amigo que ele pensa que você está traindo?”
Fil desviou o olhar para o canto. “Isso importa?”
“Não, mas…” Marianne hesitou, mais curiosa do que preocupada. “… você tem razão. Não é importante.”
“É o Marcus,” Fil confessou, vendo os olhos de Marianne se arregalarem. “Por algum motivo, Marcus enviou uma mensagem acidentalmente enquanto eu estava jantando com o Vin. Vincent então começou a me acusar. Só quando eu mostrei a ele o nosso histórico de mensagens que ele acreditou em mim.”
Outro longo suspiro escapou de Fil, balançando a cabeça. “Que ridículo.”
“Realmente ridículo.” Marianne concordou, convencida de que Vincent estava errado desta vez.
Não havia como Marcus ir atrás de Fil. Ela os conhecia tanto quanto Fil conhece. Marcus pode ser pretensioso, mas nunca passaria por cima de Vincent por causa de uma mulher. Esse era o código entre eles — a não ser, claro, que se tratasse de uma aposta. Mesmo assim, era apenas um jogo doentio que estavam jogando e não era sério.
“Então, você não vai… dar uma segunda chance para o Vincent?” Marianne perguntou depois de outro momento. “Mesmo se ele te pedir desculpas? Te trouxer uma flor? Sorvetes?”
“Você acha que flores e sorvete podem pagar pela minha dor?”
“Bem, eu acho que sorvete é um bom suborno.”
“Você está sendo maldosa agora.” Fil fez bico enquanto Marianne dava uma risada. No entanto, o humor de Fil clareou um pouco com a piada jogada ao acaso por Marianne. “Eu não sei ainda. Agora, estou brava com Vincent e não quero vê-lo. Se eu o vir, vou ficar mais brava ainda porque me fará lembrar do motivo do nosso término.”
“Está bem.” Marianne apertou a mão de Fil, acenando para ela tranquilizadora. “Tome seu tempo, Fil. Não precisa correr com nada. Ele estragou tudo. É culpa dele, então ele que aguente as consequências.”
Ambas as mulheres se olharam, como boas amigas que sempre estarão lá nos momentos bons e ruins. Isso teria feito Fil genuinamente feliz se fosse o caso. Mas, infelizmente, isso… não passava de uma ilusão. Uma ilusão que lhe fizeram acreditar ser real.
Por trás daquele belo sorriso, do tom compreensivo, e do toque gentil, se esconde uma cobra.
A única questão agora era, entre as duas, quem era a verdadeira serpente venenosa?
********
Horas depois, no Hotel Regal Palazzo…
[O número que você discou está indisponível…]
Sentando sozinho no grande sofá, Vincent sibilou após ouvir a mensagem automática pela enésima vez. Ele foi tomado pelo impulso de jogar o telefone em frustração, mas, afinal, acabou engolindo o copo de uísque que tinha em sua outra mão.
“Droga, Fil,” ele resmungou, discando o número da ex-noiva mais uma vez. Mas lá estava ela, ainda inalcançável. “Ela realmente me bloqueou?”
Vincent clicou a língua em irritação, servindo-se de outra bebida para aliviar sua crescente frustração. Ele queria dar um tempo para Fil pensar na decisão dela. Ela havia tomado uma decisão precipitada e esperava que ela se acalmasse após reconsiderar. Mas, afinal, não só ela não entrou em contato com ele, como até bloqueou seu número!
“Isso não pode continuar.” Ele cuspiu, engolindo um gole de uísque antes de se levantar do sofá. Pegou seu telefone e, então, pegou seu casaco que estava sobre o sofá para ir vê-la.
Neste ponto, ele estava convencido de que o tempo não mudaria a opinião dela. Se algo, isso poderia fazê-la acreditar que tomou a decisão correta. Ele não permitiria isso. Com esse pensamento em mente, Vincent caminhou em direção à entrada como um touro enfurecido. No entanto, seus passos pararam quando ele abriu a porta.
Lá, a pessoa que estava de pé do lado de fora com a mão prestes a tocar a campainha, estremeceu. Quando ela olhou para cima, um sorriso sutil apareceu em seu rosto.
“Anne?”