A Garota Boa do Diabo - Capítulo 111

111: Uma fatia do céu 111: Uma fatia do céu “Quem é esse?” Kenzo perguntou, observando Fil desligar o telefone depois de chegar ao apartamento de seu irmão. 
Fil olhou de volta para ele, colocando suas coisas no chão com um encolher de ombros. “Quem mais?”

“Vincent?”

“Ele tá me enchendo,” ela disse, olhando para ele sentado no sofá grande com suas muletas ao lado. “Você tá com fome? Água? Algo?”

“Você já esteve na casa do meu irmão?” Kenzo perguntou por pura curiosidade. “Como você me pergunta isso se nem é o seu lugar?”

“Eu tô namorando seu irmão.”

“O quê?”

“Brincadeira.” Fil deu uma risada. “Seu irmão me deu instruções quando eu disse que ia te levar pra casa.”

Kenzo observou Fil indo em direção à cozinha enquanto explicava sua versão da história. Ele balançou a cabeça e suspirou. 
“Não é à toa que ele não veio,” ele resmungou, se esparramando no sofá e olhando ao redor do luxuoso apartamento. 
Como Fil não estava com o caminhão dela, o assistente do irmão veio buscá-los. Kenzo não fez muitas perguntas, mas agora, percebeu que Fil e seu irmão haviam conversado sobre isso. 
“Ele não precisava ter feito isso,” ele resmungou, fechando os olhos. ‘Será que ele pensou que só porque eu não iria ouvi-lo, poderia fazer a Fil fazer todas essas coisas?’
“Voltei!” 
Kenzo deu uma espiadinha, vendo ela carregar uma bandeja com alguns petiscos e bebidas. “Tem sorvete ali. Você deveria ter pegado um pra você.”

“Este não é o meu lugar,” Fil argumentou enquanto colocava a bandeja na mesa de centro, sentando-se no mesmo sofá que ele. “Esse muffin parece bom. Tem muitos petiscos lá. Seu irmão preparou tudo para você, né?”

“Se ele fez tudo por mim, não deveria ter preparado petiscos em primeiro lugar.” Kenzo deixou escapar outro grunhido, inclinando-se para pegar o bolinho. “Eu não gosto de doces de confeitaria.”

Isso era verdade, era o que Fil queria dizer.

“Não seja muito duro com ele,” Fil comentou. “Ele não merece.”

“Se ao menos ele se casasse, meus pais não me incomodariam para me casar.”

“Bem, seu irmão se sai bem no trabalho.”

“Está dizendo que eu não?”

“Diferente dele, sim.” Fil deu de ombros. “Desculpe.”

Kenzo abriu a boca mas a fechou novamente. Ele apenas balançou a cabeça e mordeu o bolinho.

“Você não vai comer?” ele arqueou uma sobrancelha depois de um minuto, deslizando os olhos para ela. “Não é legal.”

“Estou satisfeita. Acabei de almoçar com a Elise antes de te ver.” Fil se acomodou confortavelmente, olhando ao redor do apartamento. “Este lugar é muito luxuoso.”

“Você quer morar em um lugar assim?”

“Na verdade não. É grande demais para eu morar sozinha.” Fil ainda avaliava o apartamento. “É só que… eu acho muito estranho.”

“O quê, estranho?”

“Que somos engenheiros. Nós projetamos esses tipos de prédios e trabalhamos com arquitetos e designers de interiores para ter o melhor resultado. Ainda assim, não moramos em nenhum deles.” Fil bateu os lábios, refocando os olhos nele. “Você pode morar neste apartamento luxuoso. Sua família pode pagar, mas você escolheu um prédio pequeno que é bem pior que o lugar do seu irmão.”

“Fil, meu lugar não é tão bom quanto este apartamento, mas também não é ruim,” ele justificou. “Achei que você entenderia isso mais do que ninguém.”

“Então você pensou errado.” Ela franziu a testa. “Não é porque estamos vivendo o mesmo estilo de vida, que somos iguais.”

“Porque… meus pais têm dinheiro?”

“Não. Porque você teve a escolha de usar o que seus pais trabalharam tanto para ter ou ignorá-los.” Ela deu de ombros ao pegar outro bolinho da bandeja. “Não é que eu não te conheça. Mesmo assim, sou curiosa.”

Fil o encarou novamente. “Por que pessoas que podem viver nesse tipo de lugar e ter um estilo de vida que outras pessoas só podem sonhar gostariam de ficar em um lugar muito menor?”

“Talvez… eu não sei?” Kenzo encolheu os ombros, achando um pouco estranho ela fazer esse tipo de pergunta. Não era como se ele não tivesse explicado o suficiente sobre suas decisões de vida. Mas quando ele olhou para ela novamente e percebeu a mesma curiosidade em seus olhos, uma resposta que ele nunca tinha dado antes lhe escapou dos lábios antes mesmo de ele perceber.

“Porque não importa?” ele bateu os lábios. “Não importa se você mora em uma mansão ou em um apartamento padrão. São todos apenas um teto sobre a sua cabeça, mas não um lugar que você pode dizer que é sua casa.”

Fil e Kenzo se encararam antes dela assentir em compreensão.

“É… tão simples assim?” ela murmurou, pensando sobre um certo indivíduo que sempre provocava perguntas em sua cabeça. 
“É tão simples.” Kenzo também balançou a cabeça. “Por que você está perguntando?”

“Nada em particular. Só me perguntando. É por isso.”

“Perguntar… quê? Quem te deixou curiosa?”

“Como assim, quem?”

“Somos amigos desde sempre. Eu te conheço,” ele apontou. “Você não faria uma pergunta tão simples a outros quando a resposta é óbvia. A menos que você realmente não saiba a resposta ou não queira aceitá-la.”

Fil juntou os lábios em uma linha fina. Lentamente, ela desviou o olhar dele e encarou o enfeite da mesa de centro. 
“Conheci essa pessoa durante uma visita ao canteiro de obras. Conversamos e ele mencionou que estava morando em um prédio de apartamentos pequeno. Eu sei do status dele, então também sei que ele poderia pagar um lugar melhor para ficar. No entanto, ele continuava se apertando naquele lugar apertado,” ela explicou, misturando verdade e mentira para não se entregar. “Ele tinha um colega de apartamento, a propósito.”

Ela deu de ombros fracamente. “Fiquei curiosa pra saber por quê. Por mais que eu pense, acho… estranho.”

Jackson tinha tudo; dinheiro, aparência, corpo, inteligência e até habilidades. Ele era perfeito exceto quando falava. No entanto, ela não podia simplesmente pular para uma conclusão. Isso não seria bom para o seu coração.

“Ele gostava do colega de apartamento.”

“Hã?” ela franziu a testa, olhando de volta para ele curiosa.

“Esta pessoa de quem você está falando, ele gostava do colega de apartamento.”

“Como você pode ter tanta certeza disso?”

“Simplesmente porque no mundo dele, ela não está lá,” ele explicou da forma mais simples que pôde. “Então, se ela não poderia estar lá, o natural é entrar no mundo dela. Mesmo que não se consiga nada no final, estar no mesmo mundo que ela mesmo que por um momento fugaz, vale a pena. É como conseguir um pedaço do céu. Ele está apaixonado. Loucamente, profundamente, mas talvez ele simplesmente não consiga dizer.”

“Como você sabe que ele não consegue dizer?”

“Se ele pudesse, não teria escondido suas razões com suas ações.” Ele inclinou a cabeça. “As ações nos contam muitas coisas, mas ao mesmo tempo, também podem nos confundir fazendo pensar em outra coisa.”

“Isso é… estúpido.”

“Não é, quando existem coisas mais importantes que ele queria proteger além dos seus sentimentos.”

“Como?”

“Eu não sei.”

Voltaram a aparecer as linhas profundas em sua testa, enquanto ela o ouvia atentamente. “Kenzo, por que você fala como se soubesse dessas coisas? Você já esteve em uma situação assim antes?”

Um momento de silêncio caiu sobre eles enquanto Kenzo se encontrava em uma situação difícil. Ele falou demais, e agora ela estava perguntando mais do que deveria. 
“Eu assisti a um drama,” ele soltou. “Foi de lá que eu tirei a ideia.”

Fil apertou os olhos desconfiada. “Quem é ela?”

“Fil, não é —”
“Kenzo.” Ela sorriu maliciosamente enquanto Kenzo apertava a ponte do nariz. 
‘Eu não deveria ter dito tanto,’ ele pensou porque agora ele sabia que ela não deixaria passar. E ele estava certo. Durante toda a estadia de Fil, ela o provocaria constantemente e perguntaria sobre essa misteriosa mulher em seu coração.