247: Capítulo 246 247: Capítulo 246 　　Ele se virou e a encarou, então, de pé no meio do quarto, enquanto ela estava sentada atrás de sua mesa para aliviar suas pernas doloridas.

“Os pais de Vetta eram escravos pertencentes à família Raskin. Sua mãe morreu no parto, seu pai adoeceu e morreu de repente enquanto trabalhava nas minas um dia. Em sua adolescência, ela… se encantou pelo mestre da casa dos Raskin.”

Encantar-se por um mestre nunca é uma boa ideia para qualquer escravo, mas quem é ela para atirar a primeira pedra? Ela pensou, arrependida. “E o mestre?”

“Gedony Raskin. Ele estava no início dos vinte anos e recém-casado com Yeaha que é muito mais velha que ele, mas muito poderosa na sociedade. Ela era uma princesa. Havia rumores entre os aristocratas de que Gedony Raskin desenvolveu sentimentos por Vetta também, mas eram rumores infundados. Não faço ideia do que aconteceu, mas um dia, Gedony Raskin veio ao meu pai e se ofereceu para vender Anarieveta. Meu pai nunca quis ter mais escravos mas comprou-a mesmo assim.”

“Por quê?” Ela perguntou com uma voz rouca.

“Meu pai mantém os escravos mais próximos. Ele disse que não pode ajudar todos os escravos, pois são muitos, mas ajudará aqueles que ele puder. Isso é tudo que ele é capaz de fazer por eles, pelo menos até que ele consiga erradicar as leis de Introdução de escravos e o Assassinato Injusto de escravos.”

“Seu pai é um bom homem.” Ela disse suavemente.

Ele reconheceu com um aceno, a dor piscando em seus olhos. Ele piscou para afastar a dor e continuou, “De qualquer forma, foi assim que Anarieveta começou a trabalhar no palácio. Ela era essa garota brilhante. Tão brilhante, tão inocente, sempre feliz.” Ele levantou as mãos e olhou para elas, “Ela era exatamente como sua Sally. Se não mais.”

“Mesmo?” De alguma forma, Danika não conseguia ver a amarga senhora sendo como sua Sally, naquele tempo.

“Era.” Ele confirmou, “Eu sempre a observava depois dos treinamentos com meu pai. Eu saía para uma caminhada, e lá estava ela, com outros escravos… brincando. Rindo. Ela ensinou aos escravos muitos jogos externos.” Seus olhos brilharam na lembrança, “Era sempre fascinante observá-la porque ela é uma escrava feliz. É difícil ver um escravo feliz.”

“É.” Ela concordou, pensamentos de sua adorável Sally preenchendo sua mente.

“Eu me aproximei dela. Pedi ao meu pai para colocá-la diretamente sob mim, para que ela me servisse sozinha, e ela não teria que trabalhar nas minas. Ele atendeu ao meu pedido. Tivemos três anos juntos. Ela tinha dezessete e eu vinte quando Cone atacou.”

Tão triste. Tão sozinho. Tão dolorido. Era assim que ele parecia. Seu rosto estoico e indecifrável, e ainda assim, ela viu a dor crua por trás daquela máscara inexpressiva.

“No início, quando ela continuava se oferecendo em meu lugar, na escravidão, eu pensava que era pelo amor que ela tinha por mim como seu Mestre… assim como Baski e Chad fizeram.” ele engoliu, “Mas ela continuava indo a extremos. Mais extremos, apenas para garantir que eu não sofresse. Não demorou muito para eu perceber que ela tinha sentimentos por mim. Sentimentos de mulher.”

“A escravidão a despedaçou, Danika. Depois que ela matou Yeaha Raskin, ela chorou por vários dias. Aquela mulher foi boa para ela quando ela ainda estava sob sua família, e Cone a fez matar a mulher. Ela nunca se recuperou disso. Mas, não demorou muito antes de Cone anunciar que ele encontrou a arma perfeita para o assassinato. Vetta era linda, e tinha alguém que queria proteger a todo custo… isso a tornou a arma perfeita.”

“Vetta ficou naquele pódio e jurou que preferiria morrer a matar outra pessoa para ele. Cone apenas riu.” Raiva escureceu seus olhos na lembrança.

Danika se mexeu desconfortável em sua cadeira. Isso será ruim.

“Eles prepararam outra sessão de tortura para mim e, no meio dela, ela pulou com um pé só e gritou para eles. ‘Eu aceito!’ ‘Eu farei!! Apenas deixem-no em paz, por favor!’ Ela gritou repetidamente.”

Os olhos do Rei encontraram os de Danika, “Eu… eu sei que ela deixou sua humanidade então, como eu deixei a minha, há muito tempo. Ela começou a matar por Cone. Qualquer pessoa que o opposesse na corte, ele enviaria Vetta para seduzir e matar o aristocrata. O acordo dela com ele me manteve longe das torturas por quatro meses. O mais longo desse tipo, desde que viemos para a escravidão. Tempo suficiente para meu corpo se recuperar de todas as torturas passadas.”

Ela prometeu a si mesma que seria forte, mas isso era demais para ela. Danika começou a chorar. Choros suaves que ela não podia mais conter.

Isso é demais. Isso é mais do que ela esperava.

“Eu… mais do que qualquer pessoa, sei que Vetta foi a extremos para me manter vivo. Eu poderia lhe contar muito mais, mas ficaríamos aqui a noite toda se eu fizesse isso. Eu fui tão egoísta porque sei, ela me amava à maneira dela. E eu me importava com ela à minha maneira. Mas, eu fui tão egoísta, Danika.” Sua voz se quebrou.

Ele está à beira das lágrimas. A ideia de um homem forte e poderoso como ele reduzido às lágrimas dói tanto nela. Mais lágrimas escorreram de seus olhos.

Ela desejava poder abraçá-lo, mas tinha quase certeza de que ele não apreciaria neste momento. Mas, mesmo enquanto ela sentia tanto por ele… por Anarieveta, ela precisava saber de algo.

“Porque você… se importa comigo? É por isso que você sente que foi tão egoísta?” A resposta doerá como uma faca em seu coração, mas ela precisava saber.

Ele balançou a cabeça. Isso a aliviou.

“Eu fui tão egoísta porque estava tão absorto em minha própria dor, esqueci que ela passou por tanto como eu… se não pior. Ela foi despedaçada, e ainda assim ela foi tão forte mesmo depois da escravidão, porque ela me fez o centro do mundo dela.

Ela enterrou todas as memórias de sua vida e canalizou toda a sua energia e toda a sua vida para estar comigo. Essa era a realidade que ela usava para escapar de seu passado, e era também por isso que ela se agarrou tanto a essa realidade por tanto tempo porque ela sabe que se isso acabar, ela não tem mais nada para se apegar. Nada mais para onde escapar. Não percebi isso uma vez.”

“Oh, Lucien…”

“Eu estava tão absorvido em mim mesmo, não vi o que estava acontecendo debaixo do meu nariz. Se eu não a tivesse negligenciado tanto, teria percebido o que ela estava fazendo a tempo e tentado impedi-la… ajudá-la.

Se eu não a tivesse negligenciado tanto, saberia que ela está extremamente quebrada e se escondendo disso tudo. Eu teria sabido que ela se tornou tóxica a tempo. Teria percebido que Anarieveta se tornou tão amarga que iria a extremos também só para se apegar à sua realidade.”

“Não é sua culpa, Lucien. Por favor, não se culpe por isso….”

“Você não tem ideia do quanto ela foi longe, Danika. Você não tem ideia do quanto de amargura ela tem dentro dela agora. O olhar em seus olhos enquanto ela desabafava sua raiva…” Quando ele a olhou, Danika viu conhecimento.

Havia tanto que ele não estava contando a ela. Ele sabe tanto.

“Você sabe do que dói mais?” Ele gemeu.

Danika balançou a cabeça.

“Que tudo o que Cone lhe disse no dia em que ela entrou cambaleando para me salvar, acabou sendo verdade.”

Ela baixou a cabeça e enxugou suas lágrimas. Por onde ela começa a tentar melhorar isso? Isso é demais.

Ele terminou, “E agora, eu me pergunto…. O que vou fazer sobre ela? É tarde demais para ajudá-la?” Uma lágrima escorreu dos seus olhos.

***NO MEIO DO NADA****