A Companheira Amaldiçoada do Alfa Vilão - Capítulo 273
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Capítulo 273: Mantendo-se Acordado
“Sou só eu, ou você também acha que este lugar é estranho?” Leonardo sussurrou para Cora assim que o estalajadeiro desapareceu pelo corredor.
Havia algo inquietante sobre o homem desde o momento em que entraram. Quando Leonardo mencionou que precisavam de um quarto, o estalajadeiro ficou em silêncio por tempo demais. Parecia que ele não estava fisicamente presente com eles naquele momento, apenas para de repente responder com um sorriso forçado que não chegava exatamente aos olhos.
Sua pele tinha uma palidez doentia, quase cinzenta sob a luz fraca das velas, e suas bochechas estavam encovadas como se ele não tivesse se alimentado adequadamente há semanas, talvez até meses.
O vazio nos olhos dele lembrava Leonardo de um homem que não havia realmente dormido em anos. Era tudo tão estranhamente perturbador.
O próprio ambiente não ajudava. Os corredores eram estreitos e cheiravam levemente a madeira úmida e mofo, e o ar carregava um tipo de silêncio pesado que fazia com que se abaixasse a voz instintivamente.
Para uma pousada, não parecia haver mais ninguém hospedado ali além do estalajadeiro. Ele começava a se arrepender de ter parado ali, mas se ao menos houvesse mais outras opções adequadas. Ele também não aguentaria carregar Cora a noite toda.
O estalajadeiro os conduziu a um pequeno quarto no final do corredor e empurrou a porta rangente para abrir. Ele então disse, “Não recebemos muitas visitas por esses lados com frequência.”
“Ah?”
Leonardo ergueu uma sobrancelha, e o homem acrescentou em voz baixa. “Vocês não deveriam ter vindo aqui. Façam um favor a vocês mesmos e saiam pela manhã… ou estarão presos aqui. Assim como todos os outros.”
“Presos?”
Cora piscou para o homem, a confusão passando pelo seu rosto. Antes que qualquer um deles pudesse perguntar o que ele queria dizer, a expressão do homem mudou para o mesmo olhar vazio antes de virar e se afastar pelo corredor, seus passos desaparecendo na quietude.
Leonardo entrou no quarto e ajudou Cora gentilmente a ir até a cama antes de se mover para fechar a porta. O vento uivava lá fora, chacoalhando as venezianas, e por um momento, nenhum dos dois falou.
Cora pegou sua sacola de Leonardo e tirou sua crônica, o couro gasto rangendo ao abri-la. Ela ficou feliz por ainda encontrar a caneta que havia roubado da última pousada em que estiveram dentro de sua sacola, e começou a escrever.
“Você deveria dormir um pouco,” Leonardo disse, afundando em uma cadeira próxima. “Vou ficar acordado e vigiar. Tenho a sensação de que não deveríamos dormir ao mesmo tempo.”
Cora ergueu o olhar levemente, franzindo as sobrancelhas. “É por causa do que o estalajadeiro disse?”
Ele exalou pelo nariz, balançando a cabeça. “Não só o estalajadeiro. Esta vila inteira parece… errada. Desde que chegamos aqui, não vimos uma única alma, exceto aquele curandeiro e o estalajadeiro. Como se houvesse sinais de vida, mas eu não… sinto isso.”
“Hmm..” Cora bateu a caneta contra o queixo, pensativa. “Quero dizer que o fato de não termos visto ninguém se relaciona bem com o que Mira disse sobre as florestas. O povoado é cercado por floresta, então faz sentido que ninguém esteja fora a esta hora. O estalajadeiro, no entanto…”
Cora não terminou a frase.
“Seja o que for que ele quis dizer com isso, não pareceu uma metáfora,” Leonardo murmurou lentamente. “É por isso que, só por precaução, vou ficar acordado e manter os olhos abertos para qualquer coisa suspeita. Se ele quer que partamos, então o que quer que esteja acontecendo aqui deve estar ligado às bruxas que estamos procurando. E por essa razão… Não acho que devamos comer ou beber nada deste lugar até partirmos definitivamente.”
Ele fez uma pausa, seu olhar encontrando o dela atento. “O que significa–” ele inclinou a cabeça na direção da sacola dela, levantando as sobrancelhas de forma significativa.
Cora piscou. “O quê?”
“Verifique a bolsa.”
Ela suspirou, pensando que ele estava sendo excessivamente cauteloso, mas decidiu agradá-lo mesmo assim. Quando abriu a sacola e olhou dentro, seus olhos se arregalaram. Dentro de sua sacola havia pequenos pacotes enrolados em pano—como lanches, frutas secas e pão.
Havia também um cantil de água bem selado que ela não se lembrava de ter colocado.
Seu tornozelo ainda não havia cicatrizado completamente—não porque a lesão fosse grave, mas porque ela estava se esforçando demais. Mesmo o corpo de um lobisomem precisava de descanso adequado para se recuperar, e a exaustão havia retardado sua cura natural. Com o tratamento e um pouco de descanso, seu tornozelo deveria estar bem até amanhã.
“Como você– quando você sequer…?”
“Quando compramos aquelas lanternas,” ele respondeu. “Comprei apenas para o caso de você ficar com fome no caminho, mas agora podemos usá-los para sobreviver à noite.”
Cora soltou um suspiro quieto. “Você é inacreditável.”
Ele deu de ombros.
********
Durante a noite, Leonardo ficou acordado. Ele encontrou um esfregão desgastado encostado no canto da sala e quebrou a cabeça com um movimento rápido, deixando para si um pedaço de madeira robusto. Ele o flexionou na mão, testando seu peso e equilíbrio.
Ele deu alguns golpes experimentais no ar. Não era uma espada, mas era melhor do que nada.
Ele olhou para Cora, que estava deitada na cama, de costas para ele. Ele podia perceber, pelo movimento dos ombros dela, que ainda não estava dormindo.
“Não está com sono?” Ele perguntou baixinho, descansando a arma improvisada ao lado de sua cadeira.
Cora virou-se para ele, o cabelo caindo sobre um dos ombros. “Como posso dormir em um lugar como este?” Ela respondeu suavemente e balançou a cabeça. “Não me sentiria bem de qualquer forma. Se for para dormir, você precisa desse descanso mais do que eu. Então não vou dormir.”
Ela sentou-se na cama. “Estamos nisso juntos.”
Leonardo cantarolou em resposta antes de desviar o olhar para outro lugar. Ele não tinha força para forçá-la a dormir naquele momento.
Ele perguntou em vez disso, “Aquele livro que você sempre carrega com você, o que você escreve nele afinal?”
“Você quer dizer minha crônica?”
Ele assentiu.
Cora olhou para o livro ao lado dela antes de segurá-lo em suas mãos. “É… tudo. Todas as nossas jornadas, as pessoas que conhecemos, os lugares que vimos. As partes boas, as ruins também. Acho que se pode dizer que ele guarda a história de nós… de todos nós. E tudo que passamos juntos. Eu quero escrever tudo.”
A expressão de Leonardo suavizou um pouco. “Uma história?”
“Hm.” Ela abraçou o livro levemente contra o peito. “Para que não esqueçamos de nada. Mesmo que um dia o mundo se esqueça de nós.”
Leonardo realmente não havia pensado sobre como seria o futuro… como qualquer coisa pareceria quando esse pesadelo finalmente chegasse ao fim.
Se é que teria um fim.
Será que algum deles ainda estaria vivo para ver isso? Eles seriam lembrados, ou simplesmente desapareceriam como todos os outros que foram engolidos pela maldição?
E se não houvesse fim algum? E se a escuridão continuasse se espalhando, consumindo cada pequena parte do mundo que eles um dia conheceram e chamaram de lar?
“Quando tudo terminar…” A voz de Cora interrompeu seus pensamentos, suave mas firme. “Eu vou plantar uma árvore… como uma árvore realmente grande.”
Ele piscou, virando-se para ela. “Uma árvore?”
Ela assentiu. “Para que as pessoas possam dizer, ‘Ei, Coraline plantou esta árvore’. Eu vou sentar embaixo dela em cada estação—quando as flores desabrocharem, quando as folhas caírem, e quando a neve cobrir suas raízes. Vou envelhecer e ficar com rugas sob sua sombra e, quando o tempo chegar, vou morrer lá… pacificamente. Sempre quis esse tipo de fim. Eu até tive inveja de como a maioria das pessoas no Norte conseguia morrer de forma tão pacífica. Considerando nossa situação, isso pode continuar sendo um desejo meu.”
Seguiu-se um silêncio tênue.
Leonardo abriu a boca para responder, mas parou quando ouviu algo rolar pelo chão e bater contra sua bota.
Ele franziu a testa e olhou para baixo.
Era uma bola de gude.
Quando ele se agachou para pegá-la, outra bola de gude rolou, parando bem ao lado da primeira. Os olhos de Leonardo lentamente se levantaram em direção ao canto da sala. Lá, um velho guarda-roupa estava, sua porta pendendo ligeiramente aberta, uma fenda de escuridão se abrindo por detrás dela. Ele alcançou seu bastão sem pensar duas vezes.