A Companheira Amaldiçoada do Alfa Vilão - Capítulo 264
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Capítulo 264: Dois Dias
Enquanto eram escoltados para fora da sala do trono, Esme encontrou-se hesitando na soleira. Ela não tinha certeza do porquê, mas uma inquietação a afligia. Algo sobre deixá-lo lá parecia errado. Donovan agora estava cercado por um homem que o desprezava e outro que transformaria qualquer palavra em uma arma contra ele.
“Esse lugar está começando a me deixar doente,” Revana murmurou enquanto os guardas os levavam pelo corredor. “Mais alguém notou como Dom tem estado incrivelmente quieto ultimamente? Será que os ouvidos dele ainda estão o incomodando ou algo assim?”
“Eu pensei que fosse só eu.”
Althea esfregou os braços para afastar o frio da noite. “Ele sempre foi do tipo quieto, mas ultimamente… não parece o silêncio usual dele. Eu só espero que ele realmente esteja bem.”
Esme olhou para trás no momento em que as pesadas portas começaram a se fechar, vislumbrando Donovan avançando em direção ao trono. Ele podia se cuidar – ela sabia disso melhor do que ninguém. Mas ainda assim, uma leve preocupação permanecia em seu peito. Ela esperava que ele ficasse bem lá dentro, sozinho.
********
Passo.
Passo, passo.
Donovan parou no meio do passo quando outro sigilo brilhou sob seus pés. O ar tremeu com o peso de seu poder, como se carregado com alguma energia hostil.
Dessa vez, não houve aviso– nenhuma chance de reação– antes que as runas se acendessem em um pulso de luz escaldante. A dor dilacerou seu corpo como fogo em suas veias. Seus joelhos se chocaram contra o chão com um baque surdo, sua respiração presa na garganta, mas ele se recusou a emitir um som.
“Foi demais?”
A voz de Kael era calma– quase curiosa– enquanto ele inclinava a cabeça, estudando Donovan como se ele fosse um experimento fascinante em vez de um homem contorcendo-se de agonia. Donovan odiava aquele olhar mais do que preferia admitir. Isso o lembrava demais de um passado que ele enterrara profundamente e nunca queria enfrentar novamente.
Lennox zombou.
“Isso importa? Ele não vai morrer de qualquer forma.”
Kael se levantou da cadeira, seus movimentos despreocupados e deliberados. A cada passo que dava, o brilho do sigilo intensificava-se, e a dor queimava mais fundo na carne de Donovan.
Sua visão ficou turva enquanto o sangue enchia sua boca, e ele gotejava sobre as runas que pulsavam sob ele como uma coisa viva. Em algum lugar dentro de sua consciência, seu lobo se agitava, rugindo e rosnando em um ato desesperado para se libertar e rasgá-los. Mas Donovan o forçou a se acalmar, cerrando os dentes e escolhendo a resistência em vez da rendição. De novo. O excesso de dor ativaria seus poderes demoníacos. Ele sabia exatamente o que Kael estava tramando.
“Donovan,” Kael murmurou, seu tom exasperadamente gentil para um homem presidindo a tortura de outro. “Seja honesto comigo. Somos só nós três. Não tenho desejo de gastar esforço em tormentos desnecessários. Ainda assim – tenho que admitir, é bastante impressionante – o quanto você foi capaz de suportar. Você deve conhecer bem a dor para durar tanto tempo. Qualquer outro já estaria morto até agora.”
Com seu cajado estendido à frente, o brilho do sigilo diminuiu, concedendo a Donovan um momento para recuperar o fôlego. Quando Kael se abaixou, ele olhou nos olhos de Donovan a tempo de ver uma sombra cintilar dentro de seus olhos violetas. Ela desapareceu antes que ele pudesse ter certeza de que era real.
“Hmm… seus olhos são como uma janela, não são?”
Ele se endireitou, sua expressão ilegível.
“Admito que não gosto muito de você, mas não posso deixar de me simpatizar. Não consigo imaginar como é… ser nada mais que uma ferramenta para outra pessoa. Você tem sofrido sua vida inteira, não é?”
Ele se virou com as costas agora voltadas para Donovan, suas palavras suaves, mas cortantes.
“Infelizmente, esse é o seu destino neste mundo. Seu propósito… é trazer um fim a essa maldição. Quer você queira ou não, deve terminar com você, e ainda assim não posso matá-lo. Acho isso bastante cruel, para ser honesto.”
Lennox se levantou, incapaz de compreender o que Kael estava dizendo.
“Ainda não estou entendendo… Achei que o verdadeiro portador era o pai dele. E quando ele morreu, Donovan se tornou o novo. Então, o que é isso sobre outro portador?”
Ele hesitou, então acrescentou:
“Espere – não me diga que é… é o Leonardo?”
“Não.”
Donovan arfou, forçando as palavras a saírem enquanto lutava para se levantar.
“Não é ele.”
“Então, quem?” Lennox exigiu.
“Você já deveria saber disso agora, não?” Kael virou-se para Lennox, soando quase desapontado. “Ele não é o responsável, mas ele é um vaso. Seus olhos… são como uma dimensão aprisionada espelhando o verdadeiro portador, como você chamaria. A razão pela qual ele não pode morrer é porque aquele ser ainda não terminou com ele. Seus olhos são lindos, sim. Mas também são uma prisão, refletindo cada gota de seu tormento.”
Lennox piscou lentamente, tentando processar tudo aquilo. “Então você está dizendo que a razão pela qual ele pode comandar – ou até mesmo aprisionar – qualquer um que olhe em seus olhos… é porque eles também estão vendo o verdadeiro portador através dele?” Ele franziu a testa, soltando um suspiro afiado. “Isso é desnecessariamente complicado.”
Os lábios de Kael se contraíram em algo que não era bem um sorriso.
“Maldições geralmente são.”
“Espere–”
Donovan forçou-se a ficar de pé, balançando ligeiramente devido à tontura. Ele balançou a cabeça, fixando seu olhar em Kael. Surpreendeu o Alto Mago ver que ele ainda não havia desmaiado. Isso o deixou ainda mais cauteloso em relação a Donovan.
“Aquela árvore,” Donovan murmurou, seu tom distante. “Aquela na fortaleza… estou supondo que você é quem a criou?”
Os lábios de Kael se curvaram em um leve divertimento. “Bem, tecnicamente não fui eu. Ilíria é nosso reino vizinho amigável, afinal. A árvore foi um presente do meu pai para o dele. A maioria das redes arcanas nesta região foram criadas por nós. As três bruxas também deram um pouco de contribuição na criação da árvore antes que seus segredos fossem expostos.”
“Parece que você e o Leonardo já tinham planos de visitar Mariana há muito tempo,” Lennox disse enquanto se aproximava silenciosamente, com uma mão enfiada no bolso. “Eu realmente não posso acreditar nisso. Todo esse tempo, o Leonardo era seu irmão? Por todos esses anos eu trabalhei ao lado de um meio-demônio sem perceber.”
Ele queria rir. Havia tantas perguntas que queria fazer ao Leonardo, como por que ele concordou em trabalhar com ele? Por que ele continuou a servi-lo apesar do que fez ao seu irmão? Como ele suportou tudo isso e apenas assistiu do lado? Ele queria saber.
Donovan limpou o sangue dos lábios e soltou uma risada fraca e sem humor.
“O que você esperava?” Sua voz era baixa e fria. “Que eu deixaria você torturar meu irmão da mesma forma que fez comigo? Eu tive que mentir, mesmo que significasse suportar as consequências sozinho.”
A testa de Lennox se franziu. “Mas… como? Você admitiu que o matou. Você disse a todos que fez isso. Leo não tem a marca como o resto de vocês, então do que você está falando?”
“Você diz isso como se eu tivesse outra escolha,” Donovan respondeu, franzindo a testa. “Seu pai começou todo esse drama. Eu admito – a maldição causou mais estragos do que qualquer um de nós pretendia. Mas tudo isso… essa divisão… tudo isso poderia ter sido evitado se seu pai não tivesse enganado minha mãe para visitar o palácio todos aqueles anos e depois a matado. Ele trouxe esses problemas para seu próprio reino porque não podia aceitar que minha mãe nunca o amou desde o início. E agora você está seguindo o mesmo caminho que ele.”
“O que você acabou de me dizer—”
“Vamos não ficar violentos agora,” Kael interrompeu, se colocando entre eles. “Toda esta informação está me dando uma baita dor de cabeça. A última coisa que preciso é que vocês dois transformem minha luxuosa sala do trono em uma briga e estraguem a decoração. Você sabe como é difícil conseguir todas essas coisas finas?”
Ele parou, um sorriso puxando seus lábios. “Na verdade, esqueça. É bem fácil para mim.”
Ele então limpou a garganta quando percebeu que estava desviando do assunto. “Ahem. O ponto é, se vocês vieram aqui em busca das três bruxas, então sua jornada já é infrutífera.”
“Não é.”
Donovan levantou dois dedos.
“Dois dias. Apenas dois dias, então você pode decidir o que fazer comigo.”