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Capítulo 201: Cinco Dias
O olhar de Irwin demorou-se nas unhas afiadas como garras tamborilando um ritmo pausado contra a madeira polida de sua mesa.
Os toques deliberados enchiam o silêncio como uma contagem regressiva lenta, e cada um era um lembrete claro da presença diante dele.
Finalmente, seus olhos cansados se ergueram, percorrendo o comprimento das mãos pálidas do intruso, até um rosto que era assustadoramente familiar — idêntico até, ao de Zephyr. Os mesmos olhos marcantes, as mesmas feições esculpidas. E ainda assim, enquanto o verdadeiro Zephyr mostrava um pouco de envelhecimento, esta versão permanecia intocada pelo tempo, preservada em uma forma imortal e inalterável, sem uma única marca. Ele parecia humano, mas isso era o bastante para contar a quantidade de poder que ele tinha que ganhar para reter sua forma humana. Sua aura, por outro lado, era muito mais ameaçadora.
“Você está com uma aparência terrível”, o verdadeiro portador observou, seu vácuo desprovido de simpatia. Se havia algo, havia um prazer cruel na maneira como seus lábios se curvaram, expondo o brilho de presas afiadas. Seu olhar escuro e violeta percorria Irwin com um divertimento silencioso, saboreando a visão de seu sofrimento.
“Da última vez que estive aqui, fiz-lhe uma proposta. Você estava muito mais saudável naquela época”, continuou ele, seu tom impregnado de zombaria. “Se tivesse aceitado, não estaria aqui, suportando a agonia da maldição sanguínea. E ainda assim, está – ainda teimoso, ainda apegado à sua desafiança, mesmo com a morte já à sua porta.”
Ele inclinou levemente a cabeça, estudando Irwin como se ele fosse alguma coisa trágica e moribunda. “Diga-me, valeu a pena?”
Um sorriso tênue assombrou os lábios de Irwin, fraco mas imperturbável. “Faz muito tempo”, Murmurou ele suavemente, e apesar da ameaça pendente sobre si, apesar do divertimento frio no olhar do outro, ele calmamente alcançou o bule e serviu duas xícaras. A porcelana tilintou suavemente ao passar uma pela mesa.
“Você ficou com raiva a vida inteira”, Irwin observou, seu tom quase saudoso. Ele ergueu sua própria xícara, o vapor se enroscando no ar entre eles. “Beba. Isso não te trará paz – supondo que você até tenha uma alma – mas talvez seja sua última.”
O olhar do verdadeiro portador se aguçou ao observar Irwin saborear seu chá com uma compostura irritante, completamente alheio à ameaça que sua presença carregava. Havia algo sobre Irwin que sempre o deixava inquieto, embora ele nunca conseguisse identificar o que era. Talvez fosse o simples fato de que, apesar de ter exterminado inúmeros Morgrim’s da terra que ele estava prestes a possuir, Irwin era o único que ele havia permitido viver tanto tempo — embora não por escolha.
“Patético”, murmurou o verdadeiro portador, levantando-se, enquanto sua expressão imediatamente se moldava com desprezo. Seus olhos penetrantes pesavam sobre Irwin. “Olhe para você. Ainda resta algum Morgrim em você? Você acha que eu não faço ideia da razão pela qual escolheu cuidar dos filhos do meu irmão morto?”
Irwin exalou suavemente, colocando sua xícara de chá com uma graça deliberada. “Pense o que quiser. Mas me diga, você não está aqui para me matar, está?”
Ele empurrou a xícara de chá intocada que servira ao verdadeiro portador mais perto da borda da mesa. “Se estivesse, teria feito isso no momento em que se sentou. Ou no momento em que eu lhe ofereci chá.” Seus lábios formaram um sorriso de quem sabe. “Você ainda odeia o sabor de gengibre?”
Os dentes do verdadeiro portador se cerraram, irritação cintilando em seus olhos. A voz de Irwin era enervantemente uniforme, imperturbável, a ponto de irritar o verdadeiro portador mais do que ele admitiria.
O céu da manhã acima deles escureceu sem aviso, a mudança súbita tão marcante que transformou o dia na beira da noite. As pessoas da cidade olhavam para cima confusas, já preparadas para o dia, e no jardim do palácio, Emily, que estava ocupada recostando-se entre as flores, percebeu o súbito lusco-fusco.
Mas antes que a escuridão tomasse conta por completo, o verdadeiro portador curvou seus dedos em um punho, inalando bruscamente. Com pura retenção, ele forçou a tempestade que criara a recuar, clareando o céu como se nunca tivesse escurecido.
Quando pareceu que a tormenta tinha acalmado, o verdadeiro portador subitamente lançou sua palma para frente, e o corpo de Irwin convulsionou violentamente. Uma força silenciosa e invisível o agarrava, obrigando-o a reviver a agonia de algo que nunca lhe fora dado.
Sentia como se uma lâmina fantasma tivesse cortado seu pescoço, enquanto uma força desconhecida esmagava seus ossos, quebrando-os e torcendo-os em um tormento além da compreensão mortal. E, todavia, não havia ferida. Nenhum sangue era derramado, pelo menos, não da carne.
Irwin convulsionava, seu corpo o traindo sob o peso da dor insuportável. Sua visão embaçava enquanto o sangue subia em sua boca, grosso e metálico, derramando de seus lábios e gotejando para a mesa em um leve filete rubro.
O verdadeiro portador simplesmente ficava lá, assistindo enquanto Irwin se contorcia, sua agonia silenciosa se desenrolando como uma cena de uma tragédia bem ensaiada. Ele não tinha a intenção de acabar com ele, porque ainda havia profundezas de tormento a serem exploradas.
“Eu me pergunto…”, finalmente murmurou o verdadeiro portador, abaixando a mão e libertando Irwin do aperto invisível do tormento. “Você já pensou nos que eu não poupei?”
Um sorriso malicioso puxava as pontas de seus lábios, sua voz uma lâmina silenciosa por si só enquanto encontrava o olhar ensanguentado de Irwin.
“Você não precisa fingir”, disse ele baixinho. “O ódio que você enterra sob suas palavras calmas é transparente como vidro.” Ele deu um passo medido para frente, sua presença opressiva e sufocante ao mesmo tempo. “Por séculos, eu cacei cada Morgrim, desfazendo-me deles na esperança de que eu possa acabar com aquele que começou a maldição sanguínea. Fomos levados ao limite, e percebi que fomos simplesmente amaldiçoados por aqueles que se viam como superiores.”
Ele clicou a língua. “A deusa da lua realmente nos desprezava, e isso porque ela tinha o poder de fazer o que desejava, mas não mais. Eu me tornei o invicto, Irwin. Cada matilha neste reino se regozijava com seu falso domínio, mas um a um, eles se desmoronam como moscas. Você realmente acredita que sou eu quem mantém este reino em tumulto? Pense de novo.”
Irwin, que ainda não se recuperara, conseguia compreender a acusação velada, e era uma verdade amarga que o verdadeiro portador procurava plantar em sua mente. No entanto, isso nada fazia para justificar as atrocidades que ele cometera, nem as que cometeria no futuro. Ele sabia que este homem — não, este monstro, tinha que ser parado antes que transformasse toda Ilíria contra si mesma.
Ainda assim, Irwin sabia que nada podia fazer. Havia pouco que ele poderia fazer, e o verdadeiro portador havia selado seus lábios em relação a mencionar seu nome. Sua única esperança era por seus filhos agora.
“Cinco dias.”
O verdadeiro portador afastou-se, sua forma se dissolvendo no ar como névoa recuando antes do amanhecer.
“Eu voltarei em cinco dias”, sua voz ecoou. “E quando eu voltar, Irwin, eu virei bater.”
E com isso, ele se foi.
Dentro de instantes do fim da conversa, Irwin viu sua esposa se aproximando de longe, seus braços pesados por sacolas cheias de mercadorias do mercado.
Ela havia saído poucos minutos antes da chegada do verdadeiro portador, e por isso, Irwin estava profundamente aliviado. A última coisa que ele queria era que sua esposa caísse vítima dos poderes do verdadeiro portador, ou que ela testemunhasse o que havia acontecido.
Mas no momento em que seu olhar recaiu sobre ele — seu estado desgrenhado, e o sangue manchando suas roupas e a mesa, seu aperto falhou. Os itens que ela havia comprado caíram ao chão, e ela correu até Irwin, suas mercadorias momentaneamente esquecidas.
“Irwin… o que — o que aconteceu com você?” Sua voz tremia enquanto ela estendia a mão para ele. “Está sangrando. Como você se machucou?”
Sua esposa, Clandestina, tinha na verdade voltado mais cedo do que planejado para contar a ele sobre a escuridão perturbadora que quase engoliu Ilíria. Mas após encontrar seu marido em tão abalado estado, isso também já não importava tanto, pois ela estava perdida no peso de seus medos.
Irwin exalou fortemente, balançando a cabeça.
“Por uma vez, minha querida, sinto como se o verdadeiro desastre estivesse sobre nós. Rezo para que a deusa olhe por nossos filhos.”