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Capítulo 197: Embarcando em uma Jornada
“O verdadeiro objetivo era a desorientação,” disse Donovan, com uma voz medida, porém firme. “Ele queria que acreditássemos que o rei era seu alvo, o trono. Mas isso era apenas uma ilusão. Ele sabia que estávamos vindo para o Norte, então seu verdadeiro objetivo tinha que estar em outro lugar – alguém, ao invés de algo.”
Seus dedos roçaram sua garganta, um gesto inconsciente, como se recordasse a sensação daquelas correntes invisíveis que o apertavam.
A memória do verdadeiro poder do portador ainda permanecia em sua mente, uma força tanto intangível quanto inescapável, e ainda assim, não parecia que ele estivesse fazendo esforço algum. Se o verdadeiro portador estava certo, se ele é quem sustenta sua vida, então ele também detinha o poder de tirá-la à vontade.
E ainda assim, ele não tinha feito.
Isso sozinho já era uma mensagem por si só. Mas por quê? Era a única coisa que Donovan temia, porque sua vida também estava atrelada a Esme. Se algo acontecesse com ele, ela seria afetada de mais de uma maneira.
Um silêncio pesado se instalou na sala, e Cora se mexeu desconfortavelmente em sua cadeira, seus lábios pressionados em uma linha fina. O falecido Alfa sempre foi um enigma em seu próprio domínio, e suas ações eram envoltas em sussurros. Mas uma percepção arrepiante começou a se formar ao fazer sentido que ele estivesse em contato com o verdadeiro portador todo esse tempo. Não só isso, ele estava disposto a sacrificar tudo, seu povo, seu legado, sua própria alma, apenas para cortejar o favor de um diabo.
Que loucura o possuíra? Ele realmente acreditava que poderia negociar com a própria escuridão? Uma esperança de tolo. O diabo nunca negocia — apenas toma.
E ele tinha tomado.
Bom.
Pelas inúmeras vidas que Alfa Thadius havia roubado, pelo sangue em que ele havia se banhado, Cora só podia esperar que ele apodrecesse nas profundezas do inferno junto com aqueles que o seguiram até a condenação.
“O que você vai fazer agora?” A voz de Cora era baixa, mas o peso de sua pergunta permanecia no ar. Seu olhar oscilava entre os irmãos Morgrim, buscando qualquer sinal de suas intenções. A temperatura na sala havia caído perceptivelmente, enviando um arrepio leve pela sua espinha, embora ela não tivesse certeza se era por causa do frio ou da presença dos dois homens à sua frente.
Donovan e Leonardo trocaram olhares silenciosos, suas expressões ilegíveis, não oferecendo nada em retorno. O silêncio que se seguiu parecia deliberado, como se estivessem medindo a gravidade de sua pergunta contra qualquer decisão que já tivessem tomado.
Finalmente, Donovan quebrou o silêncio. Levantando-se de seu assento com uma facilidade composta, ele sacudiu suas mangas antes de falar. “Isso não é algo com que você precisa se preocupar,” ele disse. “Leo e eu cuidaremos disso. Você, por outro lado, deve se concentrar em ficar segura. Mantenha sua guarda alta o tempo todo. A paz do Norte ainda não é permanente.”
Cora deu um pequeno aceno, embora a incerteza ainda a roesse. Seus dedos se enrolaram levemente ao seu lado enquanto ela hesitava, então ela insistiu.
“Se você precisar da minha ajuda, seja para invadir um lugar ou decifrar línguas antigas – você sabe que pode sempre contar comigo,” ela ofereceu sinceramente. “Eu estaria mais do que disposta a—”
“Não.”
A voz de Leonardo cortou a sala como uma lâmina, inquietantemente suave, porém final, para os ouvidos de Cora. “Trazer mais alguém para isso seria imprudente. Apenas siga as instruções e fique fora disso.”
Cora abriu a boca para argumentar, mas Leonardo já estava ajustando os dedos de suas luvas, sua expressão calma, porém inabalável.
“Se você não quer se tornar um alvo, então não chame atenção para si mesma,” ele simplesmente aconselhou, suas palavras carregadas de uma autoridade silenciosa. “Eu sei o que estou falando. Se algo acontecer com você, será um retrocesso para nós. E nós não podemos nos dar ao luxo disso em tempos tão cruciais. Dito isso, obrigado pela sua cooperação. Você está livre para ir.”
Cora apertou a mandíbula, mas não disse nada. Ela também tinha seus motivos para escolher ajudar, mas esse homem. Ele estava certo, mas novamente sua indiferença era outra coisa. Levantando-se, Cora endireitou seu casaco com um puxão firme antes de caminhar até Leonardo e lançar-lhe um olhar frio e desafiador. Mas ao se aproximar de Donovan, sua postura amoleceu, e com um pequeno aceno educado, ela rapidamente virou nos calcanhares e saiu.
O olhar de Donovan seguiu sua figura se afastando, sua expressão ilegível enquanto ela desaparecia de vista. Só então ele mudou seu foco para Leonardo, que estava relaxado com seu ar habitual de indiferença, completamente despreocupado.
“Como você a conhece?” Donovan perguntou, sua voz entremeada de curiosidade leve. “Ou sou só eu, ou ela parecia particularmente furiosa com você?”
Leonardo soltou um suave hum, inclinando a cabeça como se considerasse a pergunta. “Conhecê-la? Não exatamente. Mas nós já cruzamos caminhos antes. Ela sempre me olha dessa forma. Não poderia dizer se eu a prejudiquei de alguma forma.”
“E você nunca pensou em descobrir?”
“Eu pensei,” Leonardo admitiu. “Mas novamente, há outras questões prementes que precisam da minha atenção, como descobrir a intenção do verdadeiro portador. Se pudéssemos ter um vislumbre dele—”
“Uma ideia imprudente,” Donovan interrompeu com uma carranca. “Ele não é o tipo de homem que podemos simplesmente procurar. Se ele escolher se revelar, acredite em mim, é por um motivo.” Seu tom escureceu conforme ele continuava, “Lá no sombrapico, Pai nunca manteve nenhum retrato de sua família. Nenhuma pintura, nenhum esboço de nossos avós, nenhum herança de família. Nenhum registro de irmãos. Nenhuma menção de parentes distantes. E agora, de repente, ouvimos que ele tinha um gêmeo.”
Leonardo hesitou, sua costumeira compostura vacilando por uma fração de segundo. “Você acha que a maldição do sangue pegou todos eles?” Sua voz estava mais quieta, incerta.
Donovan exalou lentamente, pensativo. “Talvez. De qualquer forma, é hora de finalmente embarcarmos naquela jornada que vínhamos evitando. Precisamos procurar os responsáveis por transformar nosso pai no demônio que ele se tornou.” Seu olhar então se tornou aguçado, quase sabendo. “E se o verdadeiro portador for tão astuto quanto eu suspeito, ele já sabe que é exatamente para onde estamos indo em seguida.”
Quando a noite chegou, Donovan estava analisando os mapas. Ele estava ocupado planejando toda a estrutura que seria mais segura de tomar durante sua jornada, e sabia que tinha que entender os layouts melhor do que qualquer um antes que o momento chegasse. Kangee permaneceu empoleirado na borda da mesa, observando, e Donovan só parou pela metade quando ouviu a porta ranger abrir, e Esme entrou.
Seus olhos pousaram nela enquanto ela caminhava em sua direção, o tecido macio de seu camisão deslizando atrás dela. Era uma seda marfim delicada, fina o suficiente para capturar a luz fraca, com padrões bordados de fio prateado ao longo da bainha e do decote. O camisão aderiu suavemente à sua forma, roçando o tornozelo a cada passo. Donovan quase esqueceu no que estava trabalhando até que Kangee grasnou alto em seu ouvido direito, quase estourando seus tímpanos.
“ACORDA!!” Kangee lançou um olhar furioso para Donovan que estava ocupado esfregando o ouvido por causa do grasnar horrível.
Donovan encontrou o olhar de Kangee com uma expressão de irritação, mas isso foi despedaçado quando ele ouviu Esme rir. Esme veio ficar ao lado dele, seus olhos se voltando para os mapas e esboços na mesa. “No que você está trabalhando?”
“Nada importante,” ele respondeu, lançando um olhar para Kangee mais uma vez antes de se voltar para Esme, sua mente quase nublada pelo doce aroma floral que ela emitia. “Mas… Mas o que você está fazendo aqui? Está tarde. Você não deveria estar descansando?”
“Como posso descansar quando você não está?” Esme deixou seu olhar demorar no mapa, e Donovan notou como seu cabelo havia crescido mais do que ele inicialmente imaginava nos momentos em que o tocava. Madeixas azuis caíam sobre seu rosto, acrescentando à sua beleza. “O que são esses lugares que você marcou? Você está indo para algum lugar?”
Donovan relutantemente deixou seu olhar cair onde seu dedo delicado apontava, e cruzou os braços para resistir tocá-la. “Eu realmente não posso dizer por agora,” ele admitiu. “Mas eu te aviso assim que tiver tudo organizado.”
“Mas eu quero ajudar.”
“A única maneira que você pode me ajudar é indo para a cama,” ele disse suavemente. “Você esteve ocupada durante todo o dia, descanse um pouco.”
“Estou bem,” Esme assegurou.
“Você não está!!” Kangee grasnou. “Mestre, ela machucou o tornozelo no caminho de volta da reunião dos anciãos e se recusou a descansar! Ela foi para três lugares diferentes com um tornozelo torcido depois disso!”
“Kangee!” Esme disse seu nome em tom de repreensão depois que ele a expôs. “Quantas vezes eu disse para você parar de espionar mim??”
“Espere… você machucou o tornozelo?” A expressão de Donovan escureceu com preocupação no momento em que ouviu essas palavras. “Qual? Me deixe ver — dói? É sério?”
“Eu prometo que não é nada—” Esme mal conseguiu dizer as palavras antes de Donovan a pegar no colo.
Seus movimentos foram rápidos, porém cuidadosos, e em segundos ele a carregou até uma cadeira próxima. Ao colocá-la, ele se ajoelhou diante dela, suas mãos já levantando a barra de seu vestido com precisão prática.
Seu olhar pousou na área devidamente enfaixada. “Viu?” Esme disse com um pequeno sorriso, tentando dispensar sua preocupação. “Eu já cuidei disso. Não é nada demais. Você sabe como o Kangee pode ser dramático na maior parte do tempo.”
Donovan passou os dedos levemente sobre a bandagem, como se pudesse avaliar a lesão pelo toque sozinho. Havia algo quase inquietante sobre a maneira como ele a examinava — intenso, investigativo. “Você precisa ter mais cuidado, Esme,” ele murmurou, sua voz mais baixa agora. “Eu não quero que você se esforce até se machucar. Prometa-me que será mais cuidadosa da próxima vez.”
“Eu prometo, e eu te disse, está tudo bem.” Esme se recostou em sua cadeira e se levantou, equilibrando-se sem esforço com um sorriso triunfante. “Viu? Eu consigo ficar de pé muito bem. Minhas habilidades de cura também estão melhorando, não estão?”
Donovan exalou suavemente, sua expressão amolecendo mais uma vez enquanto suas mãos passavam sobre seu ombro antes de se fixarem ali. “Eu fico feliz que você esteja bem.”
Antes que ela pudesse responder, um brilho de cor chamou sua atenção. Ela se virou em direção à janela, prendendo a respiração quando seus olhos se arregalaram de admiração. “Don, olhe! A Aurora!”
“A o quê?”
Sem pensar, Esme agarrou seu braço e puxou o desavisado Donovan em direção à janela, sua empolgação eclipsando momentaneamente qualquer outra coisa.
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Olá, queridos leitores! Desculpem pela demora inesperada — estive lutando contra malária e tifo, o que tornou impossível escrever. Felizmente, estou me sentindo um pouco melhor depois do tratamento. Postarei mais quando puder e planejo um lançamento em massa assim que estiver totalmente recuperada. Obrigada pela paciência e apoio contínuo! Muah! 😘