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Capítulo 194: Uma Garota Junto à Parede
Na manhã seguinte, Esme imergiu no estudo das propriedades do soro de licobano, questionando-se se poderia fazer alterações positivas na arma.
Equilibrar essa busca incansável com o peso de suas novas responsabilidades estava provando ser um desafio árduo e testava sua resistência a cada passo.
No entanto, suas tarefas não terminavam ali — ela tinha uma reunião para se preparar, que exigia tanto o seu foco quanto a composição. Soltando um suspiro suave e cansado, o olhar dela desviou-se para Donovan, que emergia da câmara de banho adjacente, seus movimentos calculados enquanto ajustava seu traje.
Ultimamente, ele tinha se acostumado a dormir em seus aposentos com mais frequência do que o contrário, mas não era algo de que ela reclamava. A presença dele em sua câmara parecia mais familiar e natural do que deveria.
Os olhos de Esme o seguiram enquanto ele atravessava o quarto em direção ao lugar onde sempre repousava sua venda. Seus dedos deslizaram sobre o tecido escuro, pausando brevemente, como se perdido em pensamento. Havia uma pesadez em sua repentina imobilidade, uma hesitação que indicava um conflito interno, antes de ele levantar a venda e metodicamente tentar amarrá-la sobre os olhos.
“O que você está fazendo?” Esme perguntou, levantando-se de sua cadeira com propósito. Seus passos a levaram até Donovan, que havia parado no meio do caminho ao som da voz dela. Ele virou a cabeça em sua direção, e o olhar dela se deslocou apontadamente entre ele e a venda que segurava na mão.
“Você não precisa mais disso,” ela disse firmemente, sua voz tingida de uma urgência tranquila. “Eu sei que há outras razões por trás da venda, mas agora que você pode ver as coisas, você também pode controlar sua habilidade sem machucar ninguém.”
Donovan hesitou por um momento, seus dedos apertando o tecido. “Eu sei que parece estranho, mas —”
“Mas nada,” Esme interrompeu, seu tom ao mesmo tempo insistente e gentil. “Você finalmente tem sua visão, e isso é algo pelo qual você ansiou a sua vida inteira. Esta é a sua chance de realmente ver o mundo, de experimentar tudo o que você perdeu. Você não precisa continuar se prendendo a isso.”
Aproximando-se, Esme gentilmente segurou seu rosto com uma ternura que o desarmou completamente. “Eu entendo que é difícil deixar isso para trás, especialmente após todos esses anos. Eu posso imaginar como se sentia. É familiar, é seguro. Mas é hora de seguir em frente.” Deixando suas mãos caírem para as dele, sua expressão permaneceu firme, ainda que amável. “Me dê isso.”
Donovan fixou o olhar em Esme antes de entregar a venda a ela. Os dedos dela se fecharam sobre ela com um sentido de finalidade. “Eu vou guardá-la para você,” ela disse, sua voz suavizando enquanto ela o assegurava com um sorriso gentil. “Agora vá. Leonardo está esperando.”
A testa de Donovan se franziu enquanto a dúvida faiscava em seus olhos. “Você tem certeza?” ele perguntou cautelosamente.
Os lábios de Esme se esticaram ainda mais em um sorriso tranquilizador enquanto ela assentia. “Eu tenho certeza. Você mereceu isso. Vá aproveitar seu dia. Mas apenas com Leonardo,” ela acrescentou, seu tom leve mas direto. A implicação permaneceu não dita, embora ela confiasse que ele entendesse.
Um leve sorriso surgiu nos lábios de Donovan enquanto ele se inclinava, sua palma agora acariciando o pequeno rosto dela com uma ternura surpreendente. Ele pressionou um beijo demorado em sua coroa, seu calor momentaneamente a ancorando. “Não vou demorar,” ele prometeu.
Esme o observou silenciosamente enquanto ele saía, alcançando seu manto de pele escura que ele elegantemente envolveu sobre seus ombros. Um suspiro silencioso escapou dela quando a porta se fechou com um clique, deixando-a sozinha com seus pensamentos. Seu olhar caiu para a venda em sua mão, um símbolo tangível da vida que ele estava lentamente deixando para trás. Virando-se, Esme caminhou até sua gaveta, cuidadosamente colocando-a em um canto.
Sua atenção se deslocou para a espada de pétala de sangue que ela pendurou na parede ao lado dela, e ela alcançou por ela.
Enquanto isso, Leonardo e Donovan haviam saído do prédio, suas capas puxadas para ocultar seus rostos. Eles cavalgavam lado a lado em seus poderosos corcéis, viajando desprotegidos, exceto pela presença vigilante de Kangee. O corvo circulava alto, seus olhos aguçados vasculhando o terreno à frente.
Leonardo lançou um olhar de soslaio para Donovan, cujo rosto estava completamente oculto nas sombras de seu manto. A vista levou Leonardo a ajustar seu próprio capuz, imitando o ocultamento deliberado.
“A carta que foi trazida pelo mensageiro real,” Leonardo começou, quebrando o silêncio enquanto mudava seu foco para o caminho à frente, enquanto seus cavalos avançavam de forma constante. “O que dizia a carta? É algo que você está disposto a compartilhar?”
“Uma carta de lembrete,” Donovan respondeu calmamente. “O que é típico do seu rei.”
“Um lembrete?” Leonardo franziu a testa, o peso de seu pensamento aparente. “Eu pensei que ele adiaria a reunião, para ser honesto. Depois do que aconteceu no Leste, eu assumi que sua prioridade seria as pessoas que foram atacadas. Isso… não me parece certo.”
A mandíbula de Donovan se apertou sob seu capuz, e ele soltou um suspiro suave. “Eu não sei por que você e Esme continuam dizendo isso, como se vocês não esperassem que ele fizesse uma decisão tão estúpida. De toda forma, eu não quero que Esme vá lá, mas ela já está decidida. Não podemos acompanhá-la mesmo que queiramos, então decidi organizar a melhor proteção para ela.”
Leonardo virou seu olhar para o irmão, um lampejo de admiração cruzando suas feições enquanto ele percebia a preocupação no tom de seu irmão. Esme era afortunada por ter alguém tão ferozmente leal quanto Donovan ao seu lado. Mas na verdade, ambos tinham sorte um com o outro, portanto, ele garantiria que esse vínculo permanecesse inquebrável entre eles.
À medida que o passeio avançava, os olhos perspicazes de Donovan flagraram uma figura à frente. Seu olhar instintivamente se aguçou, focando em uma menina parada ao lado de um muro desmoronando, sua presença quase assombradora. Seu cabelo, branco como neve intocada, era mais pálido do que os próprios fios prateados dele, enquanto brilhava à luz do dia como uma auréola etérea.
Os olhos dela refletiam seu cabelo, pálidos e luminosos, conferindo-lhe um ar etéreo, quase espectral. O jeito que ela olhava para ele — intenso e consciente — enviou um calafrio inexplicável através dele, como se ela o reconhecesse de uma maneira que nenhum estranho deveria.
“Leo,” Donovan murmurou, sua voz carregada de inquietação. “Você a vê?”
“Hm?” Leonardo simplesmente virou a cabeça, seguindo a linha de visão do irmão. Ele vasculhou a rua movimentada, cheia de mercadores, viajantes e moradores apressados em seu dia. Mas sua testa se contraiu em confusão quando ele não conseguiu identificar exatamente a quem o irmão se referia. “Ver quem?”
“Ela está bem ali,” Donovan insistiu, acenando em direção à menina. “Naquele muro, nos observando.”
Leonardo apertou os olhos, tentando localizar alguém encostado em um muro, mas não importa o quanto intensamente procurasse, não viu nada de incomum. “Donovan, não tem ninguém ali. Eu não vejo ninguém perto de nenhum muro.”
Por mais verdadeiro que Leonardo soasse, Donovan não pôde deixar de duvidar se seu irmão estava o enganando novamente. Ele ainda podia ver claramente a menina, sua pequena silhueta imóvel em meio ao caos da rua movimentada da capital do Norte. Ela se destacava de maneira muito mais sobrenatural e, quando ele piscou, ela havia desaparecido.
“Ela estava bem ali,” Donovan murmurou, sua voz se esvaindo. “Bem ao lado daquele prédio, mas agora…” suas palavras falharam. Como alguém poderia desaparecer tão rapidamente, ou será que a menina usou algum tipo de técnica de teleportação para ir embora?
Leonardo, por outro lado, inclinou a cabeça, preocupação brilhando em seu rosto. “Você tem certeza que viu alguém lá?”
Donovan não respondeu. A imagem da menina estava gravada em sua mente, vívida e inegável, mas a dúvida começou a se insinuar. Ele se perguntou se o que viu era real ou apenas sua imaginação brincando com sua visão?
Ele esperava que fosse.
“Deixa pra lá,” ele disse por fim, sacudindo a inquietude persistente. “Vamos continuar.”